segunda-feira, 31 de agosto de 2009

VAMOS DESCOBRIR O RIO DAS TRIPAS...

FONTE: Ivan de Carvalho (TRIBUNA DA BAHIA).
A senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sai do PT e entra no PV, onde espera ter condições de ser uma “mantenedora de utopias”, já que acusa seu antigo partido de haver jogado às traças (até hoje preservadas pela natureza, apesar dos inseticidas) preocupações reais com o meio ambiente. Então acusam a senadora Marina Silva de radicalismo e de intransigência. E ela replica que não é assim, que não é radical coisa nenhuma, que entende a necessidade do homem de alterar o meio ambiente em que vive. Apenas sustenta que isto precisa ser feito com bom senso, dentro de limites que evitem sejam tais mudanças desajuizadas e, assim, capazes de tornar o meio ambiente hostil ao próprio homem. Em síntese: preservar sem radicalismo, alterar com bom senso.
Na segunda metade da década de 70, ocupei, durante a curta, mas operosa e séria administração do prefeito Fernando Wilson Magalhães, o cargo de secretário extraordinário de Informação e Divulgação (hoje seria o cargo de secretário de Comunicação Social) do município de Salvador. Nessa época, toda vez que chovia muito na capital, havia uma inundação na Baixa dos Sapateiros. A água não respeitava sequer a deliciosa música de Ary Barroso. Nem o ex-governador José Joaquim Seabra, que dera à rua o nome oficial tão pouco usado. Descia para o fundo do vale e, não conseguindo suficiente abrigo no Rio das Tripas, que fora há tempos canalizado e coberto porque se tornara um esgoto e corria sob o asfalto, ficava acima deste e invadia as lojas, causando sérios prejuízos a todos os comerciantes.
Pouco depois de assumir o cargo, o prefeito Fernando Wilson comprometeu-se em acabar com as inundações da Baixa dos Sapateiros. Uma obra cara, demorada, terrivelmente incômoda tanto para os comerciantes (que a reivindicavam) quanto para o público que ia às lojas ou transitava nessa rua, de execução desgastante para a administração e que depois ficaria oculta, longe das vistas distraídas dos eleitores. Mas foi feita – do Aquidabã ao Largo da Barroquinha a antiga canalização do Rio das Tripas foi substituída e nunca mais, até hoje, se ouviu falar em inundação na Baixa dos Sapateiros, que – suponho, pois há muito não passo por lá – vem cumprindo sem tropeços sua função de passarela para “a morena mais frajola da Bahia”.
Mas aí, o que foi há tanto tempo feito na Baixa dos Sapateiros e recentemente – com o acréscimo de elementos importantes de urbanização – na Avenida Centenário, começou a ser feito no bairro do Imbuí, pela prefeitura, com dinheiro alocado pelo Ministério da Integração Nacional. O fétido esgoto em que se transformaram uma lagoa e o chamado Rio das Pedras, geradores de fedor e enxames de muriçocas (não sei se o aedes aegypti aceita a desqualificada água ali existente, embora o bairro tenha em várias ocasiões revelado alta incidência de dengue), passou a ser trabalhado aceleradamente para ser canalizado e coberto, uma obra importante de saneamento, estando previstos também elementos de urbanização.
Aparece então o Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá), ou seu diretor, Júlio Rocha, de quem se diz que pretende um mandato de deputado no ano que vem. Pelo PV, o novo partido da senadora Marina Silva, que deverá candidatar-se à presidência da República. E que entrou no PV contestando o rótulo de radical que lhe querem colar.
Certamente o diretor do Ingá (órgão estadual) que baixou portaria na quinta-feira, proibindo a prefeitura canalizar o leito do rio-esgoto, não espera obter votos no Imbuí, se for candidato. Mas dá uma boa faturada com os adeptos do fundamentalismo ambiental (se ninguém ainda usou, vou patentear a expressão) ao tentar impor a preservação de meio ambiente hostil à espécie humana em área de intensa ocupação urbana. Ainda bem que outros setores do governo prometem resolver o problema criado pelo diretor do Ingá. Mas, se o ayatollah baiano do meio ambiente teimar, que vão fazer? Sugiro à prefeitura que, em protesto, mande desenterrar o Rio das Tripas. Mas depressa, antes que o diretor do Ingá se antecipe e o faça antes.

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