segunda-feira, 16 de novembro de 2009

20 ANOS DEPOIS, EXTREMOS SÃO ALIADOS...

FONTE: Evandro Matos (TRIBUNA DA BAHIA).

Diferentemente de 1989, quando mais de 20 candidatos disputaram a Presidência da República, nas eleições de 2010 o processo eleitoral deverá contar com, no máximo, cinco ou seis candidaturas. Mas, a depender das negociações que já estão em curso, o número de candidatos pode cair para quatro, sendo duas candidaturas polarizadas entre PT e PSDB, uma outra para defender os interesses do meio ambiente, do PV, e uma quarta de linha mais radical, do PSTU.
Naquela eleição de 1989, a Bahia participou ativamente do processo, envolvendo as suas duas principais lideranças: Antônio Carlos Magalhães e Waldir Pires. Antes daquele pleito, em 1986, Waldir vencera de forma espetacular o governo baiano, desenhando um novo mapa na política local. Contudo, menos de dois anos depois, ele entregou o governo ao vice Nilo Coelho e foi compor a chapa com o então deputado federal Ulysses Guimarães, candidato à Presidência da República pelo PMDB. Já a outra liderança do estado, o então ministro das Comunicações Antonio Carlos Magalhães, apoiou a candidatura de Fernando Collor de Mello, que disputou a eleição pelo PRN.
Passaram para o segundo turno Fernando Collor (PRN) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que trocaram fortes agressões durante a campanha e fizeram grandes duelos nos debates promovidos pelas redes de TV. Vinte anos depois, Collor e Lula se transformaram em grandes aliados, forçando importantes transformações na política nacional.
Na Bahia, principalmente após a morte do ex-senador Antonio Carlos Magalhães, essas transformações também aconteceram, colocando no mesmo palanque representantes radicais da esquerda e políticos considerados da direita, já vivenciado nas eleições de 2008 para a Prefeitura de Salvador. Assim, o discurso ético de 1989 foi suplantado pelo discurso pragmático, pondo fim às lutas ideológicas que tanto marcaram as décadas passadas.O processo eleitoral que se aproxima na Bahia reproduz essa perspectiva, que, vale salientar, está em curso desde a queda do muro de Berlim, em 1989. Por isso, com o fim desses dogmas e das censuras ideológicas, não é mais nenhuma novidade ver ex-carlista defender ardorosamente o governo do petista Jaques Wagner, e tampouco ex-petista apoiar candidaturas como as do ministro Geddel Vieira Lima ou do ex-governador Paulo Souto.
Em 2010, os personagens que deverão protagonizar a campanha eleitoral baiana tendem a dar continuidade a esta tese, principalmente se observarmos o quadro de alianças que já está em curso. O palanque formulado pelo governador Jaques Wagner, por exemplo, deverá contar com o PT, PSB, PCdoB e PDT, mas também com o PP (ex-PDS) de Paulo Maluf, figura sempre próxima da ditadura e que há vinte anos atrás era quase impossível admiti-lo no mesmo palanque dos petistas. No plano local, ex-carlistas como João Leão (PP) e Otto Alencar, além de vários prefeitos, também devem fazer parte desta aliança. Diante de tantas transformações que se passaram de 1989 para cá, difícil acreditar que o ex-presidente José Sarney, do PMDB - que também presidiu os partidos que serviram ao regime de 1964 -, hoje esteja aliado com o partido que tanto lhe combateu, o PT. E será com essa mistura confusa que em 2010 o PMDB apresentará a candidatura do ministro Geddel Vieira Lima ao governo baiano, que no plano regional terá o PT como adversário, mas no nacional eles costuram uma aliança para disputar o Palácio do Planalto.
Com a queda do discurso ideológico, é possível acreditar que, em 2010, pelo menos no plano nacional, estarão no mesmo palanque o PPS, ex-PCB (o conhecido partidão), o DEM (ex-PFL) e o PSDB, que nasceu de uma dissidência do PMDB sob a égide de um discurso ético. Mas essas agremiações partidárias, que na Bahia deverão ser representadas pela candidatura do ex-governador Paulo Souto, poderão contar também com o deputado tucano Jutahy Júnior e, quem sabe, com o neo-comunista Virgilio Pacheco..
Passados exatos 20 anos do primeiro turno da eleição presidencial de 1989, a trajetória de alguns dos principais personagens mostra o que mudou no cenário político brasileiro. Inimigos antes acusados de corruptos, hoje estão juntos, mostrando que pouca diferença existe entre alguns políticos. Fernando Collor, então no PRN, foi ao segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem derrotou em 17 de dezembro numa disputa que teve lances de golpe baixo.
Collor chegou a exibir na TV Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula, dizendo que o petista lhe ofereceu dinheiro para abortar. Hoje senador pelo PTB, Collor é da base de apoio do presidente Lula. “Três personagens importantes continuam em cena: Lula, Collor e o então presidente José Sarney. Lula era contra os outros dois e os dois candidatos eram contra Sarney. Hoje, os três estão juntos”, resume Fernando Gabeira (PV-RJ), também candidato em 1989. O empresariado, que hoje tem boa relação com o presidente, temia o radicalismo petista e preferia a plataforma liberal de Collor e Guilherme Afif Domingos (PL). “Com sua barba comprida à la Fidel, Lula inspirava medo”, diz Paulo Maluf (PP-SP). O marketing político engatinhava. Affonso Camargo, então no PTB, usava o humorista Tião Macalé no horário eleitoral.
A desorganização das campanhas também existia na legislação eleitoral. Temido pelos líderes nas pesquisas por sua popularidade, o apresentador Silvio Santos entrou na disputa a 15 dias da votação. Ele criou uma versão eleitoral da música “Silvio Santos vem aí”. A candidatura foi impugnada às vésperas da eleição.

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