quarta-feira, 18 de novembro de 2009

ATIRADOR ADMITE QUE RAVENGAR COBROU R$ 2 MIL PARA TRANSFERI-LO DE CELA...

FONTE: *** Bruno Menezes, CORREIO DA BAHIA.
O traficante Raimundo Alves de Souza, o Ravengar, cobrou R$ 2 mil para deixar Mateus da Costa Meira, 34 anos, conhecido como atirador do cinema, sozinho numa cela da Penitenciária Lemos Brito (PLB). Um dia depois de recusar a proposta, Mateus tentou matar o colega de cela, o espanhol Francisco Vidal Lopes, 68 anos, condenado por tráfico internacional de drogas.
“Raimundo Ravengar me ofereceu a troca de cela, mas não aceitei”, disse o ex-estudante de medicina, em depoimento na terça-feira (17) ao juiz Paulo Sérgio Barbosa Oliveira, explicando que se recusou a pagar o valor pedido pelo traficante, apontado como líder do pavilhão 1 da PLB. “Eu acabei recusando e permaneci na mesma cela. Ravengar me ofereceu a troca depois que eu reclamei dos transtornos que vinha passando. Não sei se a provocação dos outros presos se deve ao fato de não ter aceitado a proposta”, disse ele.
Mateus Meira ficou conhecido como o atirador do cinema e foi condenado, inicialmente, a 110 anos e seis meses de prisão - depois, teve a pena reduzida para 48 anos e nove meses. Ele deixou três mortos e quatro feridos quando abriu fogo contra espectadores em uma sala de cinema de São Paulo há dez anos.
RETORNO.
Na terça-feira (17), Mateus voltou ao banco dos réus para responder pela tentativa de matar o espanhol em maio deste ano. Vidal Lopes confirmou que, um dia antes de sofrer o ataque, o atirador do cinema havia pedido para Ravengar para ficar numa cela sozinho.
O novo julgamento de Mateus começou ontem (17). Ele desferiu três golpes de tesoura na cabeça do detento espanhol. “Jamais tentei matá-lo. Eu quis, sim, agredi-lo”,afirmou Mateus. Oex-estudante de medicina contou ao juiz que atacou o colega motivado por uma série de fatores - entre eles a falta de regularidade no fornecimento de medicamentos controlados. “Primeiro eu estava no presídio de São Paulo, que é totalmente diferente do daqui. Depois, encontrei uma situação que foi gerando a deterioração do meu estado mental, me deixando estressado. Percebia que eu era persona non grata na cadeia”.
Na audiência de ontem, na 1ª Vara Privativa do Júri, Mateus contou que não se recorda com exatidão do momento em que agrediu Vidal Lopes. “Tenho apenas flashes. É muito nebuloso em minha mente. Sofri uma agressão dele, não lembro se foi verbal ou se foi um empurrão, mas isso provocou em mim a reação de revidar, de agredi-lo também”.
PRISÃO.
A arma do crime, de acordo com o preso espanhol, era uma tesoura usada por ele para produzir trabalhos de artesanato. “Entrei com a tesoura para fazer artesanato lá dentro. No dia da agressão, tomei café no pátio, entrei para guardar o copo e, quando me virei, ele me atacou por trás, já me dando os golpes na cabeça. Saí correndo para falar com o líder do pavilhão, o preso Raimundo”.
Ontem (17), além de Mateus e Francisco, o juiz Paulo Sérgio Oliveira ouviu duas testemunhas de acusação e três chamadas pela defesa. Segundo o juiz, os próximos 15 dias serão decisivos para Mateus. “Caso haja indício de autoria e provas da tentativa de homicídio, o réu será julgado no Tribunal do Júri. Se não houver, o caso será arquivado. Há também a possibilidade de Mateus ter agido em legítima defesa, o que poderá render a ele a absolvição”, explicou.


“E, se ficar comprovado que não foi uma tentativa de homicídio, e sim uma lesão corporal, o processo volta ao MP para nova qualificação e tipificação do crime e o processo passa a correr em outra vara”, afirmou o juiz. Se Mateus for absolvido, o advogado dele poderá entrar com pedido de progressão do regime pelas mortes no cinema: ele quer que o cliente passe a cumprir o restante da pena em regime semiaberto. “Com ele absolvido, o caminho perde os obstáculos para a liberdade dele. Por isso, queremos que saia logo essa sentença”, explicou o advogado Vivaldo Amaral.
PRESOS DIVIDEM CIGARROS E CASACO.
O espanhol Francisco Vidal Lopes contou ao juiz que mantinha uma relação amigável com Mateus, dividindo cigarro e casaco e até emprestando dinheiro. “Eu também quero saber qual o motivo da agressão. Vi tanto sangue no meu ombro que eu pensei que era a morte. Ele é forte e achei que tínhamos uma relação tranquila”, disse.
O psiquiatra Hamilton José Costa Meira, parente de Mateus em terceiro grau, disse que o ex-estudante apresenta transtorno psicótico desde quando tinha 14 ou 15 anos, quando tentou internar o rapaz, mas ele se recusou: “Nessa época, Mateus agredia os pais, que chegavam a alugar imóveis para ficar durante as crises do filho”. De acordo com o médico, quando Mateus foi morar em São Paulo, ele foi levado a um especialista, que receitou medicação controlada ao ex-estudante.
PAIS DE MATEUS PEDE AJUDA PARA O FILHO.
Pai de Mateus, o médico Deolino Vanderlei Meira pediu ajuda para o filho. “Os outros presos tentam fazer com que ele use drogas na cadeia”, afirma. Deolino contou que o filho sempre fora uma pessoa introspectiva e de difícil relação. “Ele tinha dificuldade de se relacionar, mas sempre foi bom aluno. Passou para faculdades da Bahia e de São Paulo, mas escolheu ir para o Sudeste”, lembra.
As boas notas não escondiam a preocupação da família, sentimento que levou o médico a conversar com o coordenador do curso de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), onde Mateus estudava. “Fui até lá e pedi ao coordenador para que ele fosse acompanhado. Pedi que o professor incentivasse Mateus a se tratar, mas ele cumpria suas obrigações. Até que ele telefonou para casa e pediu ajuda. Não deu tempo. Veio o episódio do cinema e ele foi preso”, contou. “Foi nessa época que Mateus começou a usar maconha e cocaína'
ENTENDA O CASO RAVENGAR.
16 DE JUNHO - Três internos são ouvidos na Vara de Execuções Penais e denunciam extorsões.
19 DE OUTUBRO - Documento é enviado para a Secretaria da Cidadania, Justiça e Direitos Humanos (SCJDH).
23 DE OUTUBRO - Denúncias são enviadas para a direção da Penitenciária Lemos Brito, em Salvador.
29 DE OUTUBRO - É aberta sindicância na unidade para apurar as denúncias.
5 DE NOVEMBRO - Ravengar é citado para ser ouvido.
9 DE NOVEMBRO - Ravengar é ouvido, acompanhado de seu advogado. Alegou, no entanto, que só falaria em juízo. A defesa de Ravengar tem cinco dias para apresentar defesa prévia.
17 DE NOVEMBRO - Mateus Meira é ouvido em audiência do processo a que responde como autor de tentativa de homicídio dentro da PLB. Em interrogatório, ele confirma que Ravengar cobra por proteção e chegou a pedir R$2 mil para que Meira pudesse trocar de cela.
3 DE DEZEMBRO - Prazo para que o juiz decida se Mateus vai ou não a júri popular.

MATEUS ATIROU CONTRA PÚBLICO EM CINEMA DE SHOPPING DE SP.
Na noite de 3 de novembro de 1999, Mateus Meira, armado com uma submetralhadora 9mm, atirou contra pessoas que assistiam ao filme ‘Clube da luta’, numa sala de cinema do Morumbi Shopping ( São Paulo) . Ele, que cursava o 6º ano de medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia, matou cinco e feriu quatro.

*** Notícia publicada na edição impressa do dia 18/11/2009 do CORREIO.

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