domingo, 15 de novembro de 2009

BRASIL 120 ANOS DA REPÚBLICA...

FONTE: Noemi Flores (TRIBUNA DA BAHIA).

Há 120 anos foi proclamada a República no Brasil pelo marechal Deodoro da Fonseca. Um feriado que coincide com um domingo, o que fará com que a data passe despercebida por muitos, já que a maioria das pessoas não sabe o que se comemora no dia 15 de novembro. Aqui, na Bahia, a Proclamação da República foi recebida com surpresa e desagrado por muita gente, inclusive os ricos da época, já que todo o País enfrentava uma crise econômica muito grande, com enormes perdas financeiras causadas pela Abolição da Escravatura no ano anterior, 1888.
A historiadora Consuelo Pondé de Sena, presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia (IGB) conta que a Bahia era, àquela época conservadora e monarquista e “recebeu com surpresa e desagrado, a notícia da proclamação da República”. Ela enfatiza que nesta época, como o restante do País, “a Bahia estava num marasmo econômico - financeiro muito grande.Muitas fortunas haviam sofrido total derrocada em face da Abolição em 1888. Quantos aos libertos, despreparados para disputar empregos, foram lançados à miséria”, explicou.
De acordo com a historiadora os “donos do Poder” eram os poderosos e “deles faziam parte políticos, representantes dos poderes legislativo, executivo e judiciário, comerciantes abonados e proprietários. A economia baiana não tinha expressão alguma. A Bahia decaíra desde a mudança da capital para o Rio de Janeiro, em 1763”, afirmou.
Pondé acrescentou ainda que os progressistas eram representados pelos: doutores, juristas, republicanos e homens do saber . “A Proclamação da República representou para o povo baiano uma imensa surpresa. Não agradou ao povo, nem aos dirigentes. Nessa fase decadente da nossa terra destacou-se um homem inflamado, um idealista de valor, Virgílio Damásio. Foi eleito “governador” da Bahia, mas seu mandato durou muito pouco tempo”.
Para a historiadora, o Brasil sempre esteve longe de uma verdadeira República porque “embora o vocábulo traduza o governo de um Estado em que se tem em vista o interesse geral de todos os cidadãos, tudo indica que o sistema jamais foi introjetado pelo povo brasileiro. Isto, porque, nem sempre as reivindicações populares têm sido atendidas de acordo com os interesses de grande parte da população do País”, sinalizou.
A historiadora conta que “após a proclamação da República, anseio de muitos intelectuais e políticos brasileiros, tivemos que conviver com vários momentos de exceção. Em vários momentos fomos surpreendidos com golpes de Estado, sem que o povo tenha sido consultado sobre os novos rumos da vida política brasileira. O próprio 15 de novembro surpreendeu a gente brasileira, aturdida com a mudança, intempestiva, do regime monárquico, já em fase de desgaste irremediável, agonizando rapidamente. O Império se esgotara, não interessando mais às novas gerações, que desejavam seguir a trajetória das grandes correntes mundiais de ideias e sentimentos”.
A questão religiosa, a abolição e a questão militar, de acordo com a historiadora, "costumam ser considerados como os motivos principais responsáveis pela queda da monarquia. Não foram os únicos, mas tiveram grande peso na deflagração do movimento militar de 15 de novembro de 1889." Para Pondé, fala-se muito em comportamento republicano, mas poucos têm sido os dirigentes de todas esferas do poder que agem republicanamente no Brasil. "São inúmeros os exemplos de abuso do poder, e de atitudes equivocadas em relação às liberdades públicas. Para mim, pessoalmente, a palavra República tem se constituído num mito para todos os brasileiros”, concluiu.
Na Bahia, a República foi proclamada pelo coronel Frederico Cristiano Buys, em 16 de novembro de 1889 quando governava a província o conselheiro José Luís de Almeida Couto, sendo seu comandante de armas o velho marechal alagoano e futuro presidente, Hermes Ernesto da Fonseca, cujas convicções monarquistas eram conhecidas. Logo às primeiras notícias provenientes da corte, na manhã do dia 15, diversos políticos monarquistas, liberais e conservadores, adotaram a ideia de erguer a resistência armada ao novo regime.
Adiantando-se às iniciativas, o coronel Buys, oficial de grande prestígio, convocou para o forte de São Pedro o chefe republicano Virgílio Clímaco Damásio, e, com ele e outros, proclamou a república, às seis horas da tarde do dia 16. Quando assim procediam, aderiu o marechal Hermes, comunicando à oficialidade e à tropa sua decisão, já que o imperador e a princesa Isabel haviam abandonado o país, e tinha viajado para a Europa.Por telegrama, o conselheiro Rui Barbosa, ministro da Fazenda do governo provisório, comunicara a indicação de Manuel Vitorino Pereira para o posto de governador do estado, em detrimento do republicano Virgílio Damásio; Vitorino, que era professor da faculdade de Medicina, político liberal de tendência federalista, seria outro baiano que mais tarde assumiria, ainda que brevemente, a Presidência da República.
De acordo com a historiadora e escritora Káttia Mattoso, que hoje reside na França, Salvador era uma cidade dinâmica e rica, mas escondia uma grandefraqueza: continuava sendo uma metrópole colonial, depósito de produtos manufaturados vindos do exterior ou do sudeste do país, pois no final do século XIX Rio de Janeiro e São Paulo passavam pelo processo de desenvolvimento industrial. A primeira capital do Brasil não conseguia nem mesmo manter a influência regional, passando por um refluxo econômico em função do declínio da indústria açucareira.
Nas três primeiras décadas do século XX, a região sul da Bahia, principalmente o eixo Ilhéus-Itabuna, mostrou um certo dinamismo com o cultivo do cacau. Salvador tornou-se o centro comercial e exportador do produto. Entretanto, a nova atividade econômica não significou investimento de capitais na região cacaueira nem mesmo no Estado. Os coronéis do cacau preferiam investir os seus lucros na capital federal: Rio de Janeiro.
Mattoso identifica três momentos na economia baiana da Primeira República. O período de 1889 a 1897 que foi o de recuperação econômica em decorrência da alta nos preços dos produtos agrícolas e a solidificação do cacau, da borracha e dos carbonados como produtos de exportação. Já os anos entre 1897 e 1905 foram de depressão, causada pela crise da economia européia, dificuldades para a produção e comercialização do açúcar, flutuação do preço do cacau e secas que atingiram até mesmo o litoral. Entre 1906 e 1928 veio novamente a recuperação, motivada pelo restabelecimento dos preços dos produtos agrícolas e novas transações comerciais.

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