terça-feira, 17 de novembro de 2009

CAMELÔ FAZ ATÉ TESTE PARA VENDER ÓCULOS DE GRAU...

FONTE: Karina Baracho (TRIBUNA DA BAHIA).
“Está na cara”, como diz a letra da música de Gilberto Gil, mas só o Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb) não vê. Pelas ruas e avenidas da capital baiana é possível comprar óculos de grau sem receita médica e os valores podem variar entre R$ 10,00 e R$ 30,00, podendo chegar a R$ 200,00 – no caso de lentes negativas. O comércio indiscriminado acontece em bancas de camelôs a qualquer hora do dia, inclusive nas manhãs de sábados. Os vendedores ainda fornecem aos clientes um pepelete com um ‘teste’, caso a pessoa não saiba o seu grau.
Os interessados se aproximam da banca e iniciam a investida na tentativa de suprir uma falta de visão. “Acho que devo usar uns três”, disse a mulher enquanto escolhia uma armação com um adesivo na lente indicando o número do suposto grau. Colocou nos olhos e observou com um espelho enquanto o vendedor lhe entregava um papelete e a pedia para verificar se conseguia decifrar os códigos. “Pronto! É esse”, observou o vendedor. Pagamento feito, a mulher que aparentava pouco mais de 30 anos já saiu com o novo óculos na face.
Porém, a prática é condenada por especialistas, que vêm prejuízos com o uso de lentes inadequadas. “Acontece a partir do momento em que a pessoa deixa de ser examinada por um médico especialista - ou seja, um profissional que dedicou pelo menos uns 10 anos da sua vida estudando para oferecer o melhor ao seu paciente” disse a oftalmologista e especialista em catarata Alessandra Peltier Urbano.A especialista foi além: “Estes usuários não tem noção da gravidade do ato que estão executando. É como levar a sério uma brincadeira de uma criança”, destacou. Conforme ela, existem exames específicos para avaliar o grau exato de cada pessoa. “A realização disso é um ato exclusivamente médicos”, alertou.
“Não se trata apenas de escolher entre três ou quatro pares de óculos e pedir que o paciente leia a tabela à sua frente. É preciso identificar o grau adequado (através de um exame chamado ‘esquiascopia’) e a partir dele ir testando as lentes (esféricas e cilíndricas) em eixos específicos para se encontrar o grau “verdadeiro” do paciente”, explicou a oftalmologista. A falta de identificação da doença, que pode ser feita através de uma consulta oftalmológica pode causar problemas a longo prazo.
Conforme ela, sem o profissional adequado para que seja realizado o diagnóstico exato, a doença pode não ser detectada. “Nem sempre a visão embaçada decorre apenas da necessidade de óculos. Ela pode ser consequente à manifestação de outras doenças. Apenas o oftalmologista está habilitado a fazer o diagnóstico correto, a prevenção e o tratamento destas doenças”, ressaltou Alessandra Peltier Urbano.
Análises especificas – Apenas exames específicos podem detectar certas doenças oculares que podem passar despercebidas. “Em alguns casos, principalmente em crianças, em jovens, em míopes e em astigmatas - é necessário o exame refratométrico sob cicloplegia - ou seja, com a pupila dilatada, para se evitar a ‘acomodação’ do cristalino, que pode interferir na aferição do grau real. O ambiente deve ser adequado (penumbra e silencioso) e o tamanho dos optotipos (tabela das letras) deve ser de acordo com a distância da sua projeção”, alertou a especialista.
Conforme o vendedor informal, que comercializa óculos sem garantia, os graus vendidos na banca são positivos. “Se a pessoa for míope só com receita médica”, alertou ele com orgulho. “Esse custa R$ 200,00, é só você me dizer o grau que pego, mas antes tem que mostrar a receita”. Mas, segundo a oftalmologista, tal prática também não é confiável, pois o material dos óculos não tem garantia.
Alessandra Peltier destacou ainda, que numa mesma consulta o paciente pode ser submetido a ouras análises para a verificação da saúde ocular. “Como a medida da pressão intra-ocular (importante para o diagnóstico do glaucoma), mapeamento de retina (para diagnóstico de diabetes, hipertensão arterial sistêmica, descolamento de retina), biomicroscopia (que podem ser diagnosticadas catarata, uveíte e doenças na córnea, olho seco)”, ressaltou a médica.
Aparelhos específicos, modernos e computadorizados possibilitam um exame mais detalhados e lentes mais precisas. O Pupilômetro faz as medidas de distância pupilar (DP) e distancia naso-pupilar (DNP), o esferômetro mede as curvas das lentes de seus óculos, auxiliando para uma confecção mais precisa e o lensômetro que é utilizado para medir o grau de uma lente. Esses são apenas alguns dos aparelhos encontrados em lojas especializadas para a comercialização de óculos de grau.
“O uso de lentes inadequados e de má qualidade óptica pode provocar dor de cabeça, dor nos olhos, lacrimejamento e desconforto visual”, destacou a oftalmologista. Segundo ela, é de fundamental importância que os usuários verifiquem a qualidade dos óculos. “Em óticas eles são comumente encontrados”, concluiu.
SOCIEDADE BAIANA DE OFTALMOLOGIA ALERTA POPULAÇÃO.
O presidente da Sociedade Baiana de Oftalmologia (SBO), Bruno Castelo Branco alerta. “É preciso ter confiabilidade sobre no que está sendo vendido”. Segundo ele, ao usar lentes inadequadas o paciente pode descobrir problemas de saúde ocular em estágios bastante avançados. E exemplificou. “Existem por exemplo, cegueiras previniveis e outras irreversíveis. O glaucoma muitas vezes é previnivel, mas não se pode reverter, já a catarata conseguimos reverter com um procedimento cirúrgico”.
De acordo com ele, o uso de lentes inadequadas pode ser o inicio para que a pessoa deixe de tratar algumas doenças preveniveis da saúde ocular. “Além de possuir diversos efeitos colaterais pela falta de cuidados básicos na confecção da armação que pode não se adequar ao rosto e da lente”. Segundo ele, as lentes de grau positivo podem ser mais indicadas para pessoas acima dos 40 anos, também mais propícias a glaucomas e cataratas.
Segundo o decreto de 1934, somente aos médicos cabe a tarefa de indicar o uso de lentes corretivas mediante exame de acuidade visual. Para seu perfeito diagnóstico é necessária a realização de exames médicos especializados e acompanhamento contínuo.
Procurados por nossa equipe de reportagem o Cremeb, informou que, não tem poder de polícia para realizar as fiscalizações em relação aos óculos vendidos indiscriminadamente no mercado informal. Ainda segundo o conselho, eles apenas vão verificar o comercio ilegal após denúncias. “Creio que apenas a polícia tem o poder de fazer estas apreensões, pois são como cds’s e dvd’s piratas, de procedência duvidosa”, informou uma funcionária que não quis ser identificada.

Um comentário:

  1. ESSES CONSELHOS SÓ PEGAM NO PÉ SE FOR DE MÉDICO. COMO SE TRATAM DE CAMELÒS,QUE NÃO TEM NADA A PERDER A POPULAÇÃO MENOS ESCLARECIDA QUE SE DANE...DR NELZINHO FALEIRO (MÉDICO OFTALMOLOGISTA) CRM 4953-7 GO

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