quarta-feira, 18 de novembro de 2009

LULA, CAETANO E A COBRA...

FONTE: Janio Lopo (TRIBUNA DA BAHIA).

Detesto gênios que se veem como gênios. Normalmente eles sofrem da síndrome do egocentrismo. Psicopatas (ou não) são tomados por uma patologia que ataca com frequência as chamadas celebridades, que são impelidas a vomitarem todo tipo de expressões azedas para alívio de um estômago insaciável, sobretudo se perde sua capacidade de digerir e aceitar a decadência do próprio estrelismo. Pergunto-me a mim mesmo o que teria levado Caetano Veloso a chamar o presidente Lula de analfabeto. O filho de dona Canô não apenas desrespeitou o chefe da Nação, mas os milhões de eleitores que colocaram o ex-metalúrgico no trono com direito a um segundo reinado.
Longe de pensar que a cobra mordeu Caetano, como diria um versinho de Chocolate da Bahia. Ele (Chocolate) vai mais além. Leia a segunda estrofe: “Quem não cunhece a cobra pérgunte’a Gilberto Gí-il /foi quem mais brincou c’oa cobra/ foi quem mais a cobra viu”. Gil entra na história como coadjuvante. Afinal, o autor de Lunik 9 foi ministro da Cultura do tapado presidente. Francamente, Caetano se superou em vislumbramento e em pernosticismo. Pessoalmente não voto em Lula, mas reconheço o seu legado. Talvez seja essa pujança do marido de dona Marisa que frustre Caetano cuja beleza dos poemas é incontestável, mas que se apequenou na tentativa de denegrir ou humilhar não a figura presidencial, mas, digo eu, o operário que se transformou na personalidade mais importante do Brasil e um dos mais admirados e cotejados do mundo. E olha que eu e parte do PT nunca nos demos (e nem nos daremos) bem. Acho que não gosto de gênios porque eles nunca se cansam deles próprios. Acham-se belos e insuperáveis. São normalmente espalhafatosos e imodestos. Têm ojeriza à discrição. Caetano é narcisista. Ele o reconhece em “Sampa” ao constatar que Narciso acha feio o que não é espelho. Posso também está errado.
Ao tachar Lula de analfabeto, o filho de Santo Amaro teria querido, na verdade, cravar-lhe a alcunha de ignorante – no sentido de ignorar, não no sentido de não saber ler nem escrever. De qualquer modo, Caetano precisa está em evidência e nada mais aconselhável, para tanto, sair por aí avacalhando aqueles que estão acima – muito acima – dele, do cantor e compositor baiano, que conhece bem o exílio, mas o prefere ao anonimato involuntário. Tudo isso porque ele certamente se sente o avesso do avesso do avesso do avesso. Lula deve está lá pensando com os seus botões: as provocações, assim como o primeiro sutiã, a gente nunca esquece – se bem que quem entende de sutiã é a “galega”.

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