segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

ATRASO, ATRASO, ATRASO...

FONTE: JANIO LOPO (TRIBUNA DA BAHIA).

O prefeito João Henrique tem sobre sua mesa um retrato do que será a nova orla de Salvador – da Ribeira a Stella Maris, incluindo as ilhas que pertencem à capital e o subúrbio ferroviário. É um projeto arrojado e gigantesco. Aliás, para tocá-lo, foi solicitado a organismos internacionais empréstimos na ordem de R$300 milhões. E pensar que há pouquíssimo tempo nossa capital não podia se atrever pedir um tostão furado aqui dentro ou lá fora. Simplesmente sua capacidade de endividamento estrangulou-se. Agora tudo indica que os recursos serão liberados e o que hoje são ruínas amanhã poderá se transformar numa das maravilhas de nossa terra.
Falo, óbvio, em tese. Não porque não acredite no poder de determinação e mesmo de convencimento de João Henrique. O que me intriga é a terrível má vontade de dirigentes de entidades responsáveis pela liberação das propostas. Parece haver um complô, não contra o prefeito, mas contra o cidadão, a cidadã de uma metrópole cujo desejo é vê-la transbordando de atrativos para quem chega e para quem aqui reside. Lembro que há cinco anos se fala em requalificar a orla de Salvador, reequipá-la, modernizá-la. Enfim, torná-la tão atrativa quanto à de qualquer outra capital nordestina. As primeiras construções das barracas de praia, dentro da concepção inicial da futura orla, chegaram a ser erguidas. Havia um sinal de esperança no ar. Deixaríamos de ser a podridão, a imundície, a nojeira que éramos para nos tornar uma localidade aprazível e humana.
Para surpresa geral, mal iniciaram os trabalhos e as portas do inferno se abriram. Veio Ibama, veio o CRA (hoje IMA), vieram os procuradores e os promotores do Ministério Público e, por fim, a Justiça Federal. Faltou apenas a Marinha preparar suas corvetas e porta-aviões já ultrapassados e preparar a estratégia de guerra para evitar as intervenções na orla. Faltou ainda convocarem o Exército e a Aeronáutica para dar cobertura. A zoada foi tanta, os defeitos colocados foram tamanhos que resolveram paralisar todo o plano.
E para o bem-estar dos senhores interventores, eles conseguiram, a partir do berço esplêndido em que repousam, anunciar para os quatro cantos do mundo que preferíamos o nosso lixo original, fétido e com propriedades de contaminar o banhista a uma orla disciplinada e organizada. E agora, fazer o quê? Disseram-me que a decisão final está nas mãos de um juiz, Satanás sabe há quanto tempo. Pergunto:
esse juiz entende de orla, de projetos, de modernidade? Acho que não. São cinco anos, minhas senhoras e meus senhores. Tempo suficiente para afastar centenas, milhares de turistas daqui e esvaziar uma atividade econômica fundamental para uma cidade que vive disso. Mas quem se importa com o desemprego, com o aumento da criminalidade, com a exploração infantil, com o crescimento inexorável da miséria? Eu me importo.

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