segunda-feira, 31 de outubro de 2011

ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CORRETA É UM DESAFIO...


FONTE: TRIBUNA DA BAHIA.


Redes de ensino que melhoraram os índices de alfabetização de seus alunos têm um fator em comum: usam avaliações externas e internas para elaborar suas políticas educacionais. "O importante é o ensino não ser pautado pelas avaliações", alerta Magda Soares, referindo-se à prática de algumas redes que selecionam os "melhores alunos", treinam as turmas seletas para as provas e veem nisso um fim - e não um meio para melhorar a educação.


"As avaliações têm tido papel importante, apresentando parâmetros do que a escola precisa fazer, definindo as competências nos descritores das provas. Devemos ter clareza sobre as habilidades específicas e as operações cognitivas que os alunos precisam desenvolver", diz.


Para a etapa da alfabetização, uma avaliação externa muito utilizada como forma de planejamento de redes e de escolas é a Provinha Brasil. Ela é aplicada a crianças do 2º ano do ensino fundamental, em duas etapas (no começo e no fim do ano), para fins de comparação do rendimento ao longo do ano. Os resultados não são divulgados ou ranqueados. As provas trazem descritores que ajudam na aferição do nível de alfabetização dos alunos. São aplicadas e corrigidas pelos próprios professores e, dependendo de seu uso, a ferramenta pode ajudar no planejamento de ações das redes de ensino e na correção dos rumos do trabalho pedagógico.


No entanto, para Maria Teresa Esteban, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, os exames em larga escala, em especial quando aplicados em crianças muito pequenas, podem ser mais danosos do que benéficos. Ela chama a atenção para o fato de que o próprio documento de explicação da Provinha Brasil, enviado aos professores e gestores, afirma que o exame não avalia habilidades fundamentais para a fase da alfabetização, como oralidade e escrita.


"A avaliação requer procedimentos e instrumentos que fazem parte do processo pedagógico, que ajudam a observar como está ocorrendo o ensino e se esse ensino está sendo favorável à aprendizagem. Duas crianças que dão a mesma resposta errada no exame não necessariamente a elaboraram da mesma forma", explica Maria Teresa.


De acordo com a educadora, os gestores de rede precisam transformar as informações sobre as práticas de sala de aula em dados para organizar o sistema de ensino. "Se o gestor se baseia em dados fornecidos por avaliações em larga escala, deixando de lado uma série de informações relevantes que fazem parte do processo de sala de aula, essas práticas importantes ficam à margem, secundarizadas nas políticas e no planejamento", diz.


Além disso, ao criar políticas públicas com base em avaliações externas, os gestores podem enfrentar outro problema: o treino das crianças para os exames. Boa parte do tempo que poderia ser usado para trabalhar questões indispensáveis da alfabetização acaba sendo usada para a repetição de atividades similares às do exame.


A professora defende que, para garantir a alfabetização, é preciso que o gestor invista na formação permanente dos diferentes sujeitos envolvidos na educação, e não só dos docentes. Ressalta também a importância de garantir estrutura às escolas, acesso aos livros, ambientes em que a criança seja participante da cultura escrita e foco nas diferenças locais.

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