quinta-feira, 24 de abril de 2014

BISSEXUALIDADE PODE SER FASE DA VIDA...

FONTE: iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.

Recentemente, a cantora Jesse J surpreendeu os fãs ao anunciar que não era mais bissexual e que pretendia se casar com um homem. "Para mim, foi uma fase”, afirmou laconicamente a popstar britânica, numa entrevista ao tabloide inglês The Mirror. Mas será que alguém, seja anônimo ou famoso, pode decretar com tanta certeza que deixou de ser bi ou que sua orientação sexual nunca mais vai mudar?
A resposta para esta pergunta não é simples, segundo a terapeuta sexual e diretora do Instituto Kaplan Maria Helena Vilela. “A Jessie pode até não se relacionar novamente com alguém do mesmo sexo, mas ela não pode ter esta certeza disso de antemão, inclusive porque não está claro cientificamente quais são os fatores que levam alguém a ser bissexual, gay ou mesmo heterossexual”, aponta Maria Helena.
Particularmente, a razão da bissexualidade se mostra ainda menos clara. A psicóloga e sexóloga Carla Cecarello explica que esta forma da sexualidade, muitas vezes, tem um caráter sazonal na vida de muitas pessoas.
“A homossexualidade é algo bem definido, se trata de uma pessoa que tem uma orientação afetiva sexual voltada paro mesmo sexo. A heterossexualidade, por sua vez, é uma orientação afetiva sexual voltada para o oposto. O bissexual, no entanto, é alguém que pode estar e não ser homossexual ou heterossexual”, explica Carla, acrescentando que a cantora britânica pode estar numa fase hétero de sua bissexualidade.
Do mesmo modo, a cantora pode voltar a viver uma fase homossexual de sua bissexualidade. “A Jessie J poder estar vivendo um momento em que está heterossexual. É um estado, não uma condição. De qualquer forma, não é uma chavinha que a pessoa troca quando quer, não é como mudar de roupa”, pondera Carla.
A terapeuta sexual e psicóloga Ana Canosa entende que a preocupação em definir a bissexualidade como uma fase da vida aparece, muitas vezes, em pessoas que não se despiram dos preconceitos e das convenções sociais. “As pessoas mais livres se permitem viver o desejo de uma maneira mais ampla”, avalia Ana, lembrando que a parte mais conservadora da sociedade sempre reage a algo que escapa dos padrões pré-estabelecidos.
“De modo geral, as pessoas são preconceituosas em relação a tudo, a quem é assexuado, aos transegêneros, aos homoafetivos. A sociedade quer enquadrar todos na heteronormatividade. Por outro lado, os ativistas LGBT também se mostram preconceituosos ao seguir o padrão de enquadrar ou não alguém na heteronormatividade”, pondera Ana.
Maria Helena também vê as convenções sociais como limitadores de uma expressão plena da sexualidade das pessoas. “Não há porque limitar, o desejo não tem gênero. O ser humano superou a função unicamente reprodutora do sexo. Nós nos apaixonamos por pessoas, pelo que elas representam para nós, o sexo dela nem sempre é preponderante”, constata a terapeuta sexual.
“Não há uma teoria que explique definitivamente porque alguém se apaixonou por um homem moreno, alto e de barba e não por um cara loiro, gordinho e de bigode. Da mesma maneira, não dá para explicar porque uma mulher apaixona por outra mulher e não por um homem”, completa Maria Helena.
NINGUÉM PRECISA SE DEFINIR.
Em seu último livro, “Sexualidade Sem Fronteiras” (MG Editores), o psicanalista Flávio Gikovate aponta que as divisões heterossexual, homossexual e bissexual ficaram obsoletas no futuro, com as pessoas não precisando se encaixar em padrões definitivos. Gikovate vê a questão como um “Muro de Berlim” prestes a ser derrubado.
“A derrubada do muro permite aos habitantes de um lado migrar para o outro – e vice-versa – quantas vezes isso lhes parecer razoável e adequado”, analisa Gikovate, apostando na ideia de que o sexo das pessoas não será um fator definitivo no envolvimento delas. “Em breve, quem irá definir a orientação sexual será o encantamento amoroso”, projeta o psiquiatra.

“Se o amor migrar de um parceiro para outro de gênero diferente, o erotismo tenderá a migrar junto. Isso quando conseguirmos algo ainda difícil, que é acoplar o sexo ao amor e não à agressividade, como acontece hoje”, conclui Gikovate.

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