sexta-feira, 23 de maio de 2014

CONHEÇA OS RISCOS DO ÁLCOOL NA GRAVIDEZ...

FONTE: TRIBUNA DA BAHIA.

A exposição pré-natal a qualquer tipo e quantidade de bebida alcoólica pode acarretar problemas graves ao bebê, ou surgir tardiamente. Se instaladas no feto, podem se perpetuar até a idade adulta.
A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) apresenta diversas manifestações, desde alterações comportamentais até malformações congênitas neurológicas, cardíacas e renais. Contabiliza, no mundo, de um a três casos por mil nascidos vivos.

No Brasil, não há dados oficiais do que ocorre de norte a sul sobre este tipo de dano. Entretanto, existem números de universos específicos. Para ter uma ideia, no Hospital Municipal Maternidade-Escola de Vila Nova Cachoeirinha, um estudo com duas mil futuras mamães apontou que 33% bebiam mesmo esperando um bebê. O mais grave: 22% consumiram álcool até o dia de dar à luz.

Inexiste qualquer comprovação de uma quantidade segura de bebida alcoólica que proteja a criança de qualquer risco. Neste caso, a gestante ou a mulher que pretende engravidar deve optar por tolerância zero à bebida alcoólica, conforme alerta Conceição Aparecida de Mattos Segre, coordenadora do Grupo de Prevenção dos Efeitos do Álcool na Gestante, no Feto e no Recém-nascido da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

Veja respostas às principais dúvidas:
Quais as características da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF)?
A SAF completa apresenta uma tríade básica de alterações: um padrão típico de dismorfias faciais (fissura palpebral pequena, ptose palpebral, hemiface achatada, nariz antevertido, filtro nasal liso, lábio superior fino), que se associa à restrição de crescimento pré e/ou pós-natal e evidências de alterações estruturais e/ou funcionais do SNC (microcefalia, agenesia do corpo caloso e hipoplasia cerebelar, além de outros sinais neurológicos como dificuldades motoras finas, perda da audição sensoneural, incoordenação da deambulação e dificuldade da coordenação olho-mão) e retardo mental.

Existe, ainda, a possibilidade de defeitos congênitos cardíacos, deformidades do esqueleto e dos membros, anomalias anatômicas renais, alterações oftalmológicas, perda da audição e fenda labial ou do palato. É preciso salientar que para caso de SAF completa há dez casos de síndrome parcial ou incompleta, conhecida como espectro dos efeitos do álcool no feto (FASD na sigla em inglês).

Há números sobre incidência desta síndrome em nossa população?
Não há nenhum estudo populacional no Brasil relatando a incidência de SAF em nosso meio. Há apenas estudos pontuais, como o realizado entre a população do Hospital Municipal Maternidade-Escola de Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo, que encontrou uma frequência de SAF semelhante àquela referida pela literatura internacional, ou seja, 1,5 casos/mil nascidos vivos. Contudo, o encontro de FASD nesse mesmo estudo foi da ordem de 38,7/mil nascidos vivos.

Qual a população de gestantes com risco elevado de dar a luz a uma criança com SAF?
Constituem fatores de risco para as gestantes consumirem álcool e, portanto, terem filhos com SAF: gravidez na adolescência, baixo nível de escolaridade, baixo nível socioeconômico, cohabitação com alcoolistas, uso de fumo e de drogas ilícitas, gestação não planejada, ausência de pré-natal.

As crianças acometidas apresentam déficit de aprendizado e de cognição?
Sim, crianças com SAF completa ou parcial podem apresentar: diminuição da capacidade de execução de tarefas, dificuldades de aprendizado, principalmente de matemática, déficit de recepção e expressão da linguagem e alterações comportamentais (personalidade difícil, labilidade emocional, disfunção motora, pobre desempenho escolar e má interação social. Com frequência, na adolescência, apresentam problemas com a lei (delinquência) e abuso de álcool e drogas.

Existe alguma tolerância para ingestão de bebidas alcoólicas durante a gestação?
Não. Não se conhece até o momento nenhum nível de ingestão de álcool abaixo do qual o feto estará protegido. Para o consumo de álcool durante a gravidez, ou para mulheres que desejem engravidar, a tolerância é ZERO.

O risco de SAF é dose e/ou tempo dependente de consumo de álcool pela mãe durante a gestação?
Embora não se saiba exatamente qual é a dose de álcool que poderia causar dano fetal, evidências recentes sugerem que mesmo uma dose por semana pode estar associada a acometimento fetal. Alguns fatores, porém, devem ser considerados como de maior risco para lesão fetal: ingestão de grandes volumes de bebida alcoólica de uma só vez (conhecido na literatura internacional como “binge drinking”), o grau de dependência e gravidez prévia com filho anterior portador de SAF.
Pesquisa recente, por meio de regressão logística, identificou que beber no primeiro trimestre da gestação elevou a possibilidade do feto ser atingido e apresentar FASD, em comparação aos fetos de mães não alcoolistas, em cerca de 12 vezes; beber no segundo e no terceiro trimestres, em 61 vezes; beber durante toda a gestação, em 65 vezes.
Quais os problemas que o consumo de álcool durante a amamentação pode acarretar ao lactente?
Alguns pontos devem ser salientados: o álcool não é galactagogo, mas ao contrário, provoca ligeira redução da produção de leite e, quando consumido pela mulher, é transferido para o leite por difusão passiva em 30 a 60 minutos após a ingestão. Provoca, no recém-nascido, sonolência ou irritabilidade, transpiração excessiva, fraqueza, ganho anormal de peso e diminuição do crescimento linear.

As alterações da SAF são reversíveis?
Não. Uma vez que o feto seja acometido, as lesões são para toda a vida. Não há tratamento curativo, apenas de suporte.

Como tratar a dependência alcoólica na gestação?
O tratamento da dependência alcoólica durante a gestação é bastante complexo e exige atenção multiprofissional. Contudo, cabe ao obstetra um papel chave, identificando as gestantes alcoolistas, promovendo intervenções motivacionais breves, atuando na educação da paciente e encaminhando para centros de referência para tratamento de dependentes.


Como os pediatras e os ginecologistas podem atuar juntos no combate à SAF?
Primeiramente, tomando consciência do problema. Promovendo educação das gestantes, puérperas e mães em geral, divulgando o tema em congressos médicos, produzindo e distribuindo material em eventos científicos, promovendo cursos, jornadas de capacitação para reconhecimento e condutas nestes casos voltados para equipes multidisciplinares. E, principalmente, não desistir.

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