segunda-feira, 25 de agosto de 2014

CONHECIDA DAS CRIANÇAS, RITALINA AGORA VIROU A "DROGA DOS CONCURSEIROS"...

FONTE: iG Minas Gerais, TRIBUNA DA BAHIA.
Depois de ganhar a fama como a “droga da obediência” por ser muito receitada para crianças com sintomas de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o metilfenidato – mais conhecido pelo nome comercial Ritalina –, vem agora sendo usado de forma indiscriminada e, na maioria das vezes, sem orientação médica por estudantes e concurseiros.
Pelas redes sociais não é difícil encontrar alunos relatando o uso da “pílula da inteligência” ou a “droga dos concurseiros” para “turbinar” os estudos. Um exemplo é a estudante de obstetrícia Pollyana Garcia, 18, que usou o remédio “para se concentrar melhor”. “Eu usei uma vez porque estava muito nervosa com a prova e passei quase a noite inteira estudando. Minha mãe falou para eu tomar, mas que seria a única vez porque ela também tinha medo de causar dependência. Eu consegui fazer a prova sem ficar muito nervosa”.

Essa prática perigosamente comum atualmente de fazer uso do medicamento como aprimoramento cognitivo, ou seja, com a finalidade de melhorar o desempenho nos estudos e no trabalho, é um dos motivos para o crescimento de 775% no consumo da droga, entre 2003 (94 kg) e 2012 (875 kg), segundo a psicóloga Denise Barros.

O número faz parte de sua tese de doutorado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), com base em dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Ainda não existem muitas pesquisas clínicas sobre os efeitos e consequências desse uso por pessoas saudáveis, mas o que já se tem notícia é que a Ritalina é uma medicação com grande risco de abuso e classificada pela ONU entre os grupos de maior perigo para a saúde”, alerta.
A estudante de farmácia, Daniele Santos, 25, também conta que usou a Ritalina por dois anos sem indicação médica. “O meu objetivo era ter mais concentração, mas sentia muitos efeitos colaterais, como irritabilidade, corpo cansado e insônia”, comenta.
Consumo. De 2010 para 2013, o número de caixas de Ritalina vendidas no Brasil passou de 2,1 milhões para 2,6 milhões, de acordo com os dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Para tentar entender o uso do medicamento, Denise entrevistou 11 homens e cinco mulheres, entre 23 e 48 anos, e percebeu que a maioria dos entrevistados que usavam a droga tiveram a indicação primeiramente de um amigo. Por isso, ela acredita ser difícil avaliar até onde os resultados significavam um efeito do próprio remédio ou como se fosse um placebo, uma vez que os usuários já sabiam do funcionamento da Ritalina.
Além disso, as entrevistas demonstraram que, quando a medicação foi receitada por médicos, as indicações eram para cansaço, falta de concentração e distração nos estudos. “Hoje em dia, as pessoa são muito mais requisitadas para ter uma maior disciplina da atenção e isso torna qualquer falha mais prejudicial, fazendo com que elas se pareçam mais desatentas. O papel do médico e dos remédios na vida das pessoas mudou”, afirma.
Para Denise, como o medicamento favorecia que os usuários se concentrassem em atividades chatas, eles acabavam não avaliando se era isso mesmo o que eles queriam da própria vida ou não. “O remédio aumentava o ritmo sem que eles fizessem uma avaliação”, afirma.

Sem efeito. Segundo Denise Barros, alguns alunos mostraram melhora na concentração e no rendimento nas primeiras quatro semanas, mas o efeito não continuou depois.

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