sexta-feira, 26 de junho de 2015

TIRA-TEIMA: CHOCOLATE É MESMO TÃO BOM PARA A SAÚDE?...

FONTE: Tatiana Pronin, Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).


Ajuda a prevenir infartos, derrames, melhora o humor, o sono e, por incrível que pareça, faz emagrecer. Tudo isso foi dito recentemente sobre o chocolate, para delírio dos fãs desse alimento, algo que deve equivaler a 99,9% da população. Antes de se entupir com a guloseima, no entanto, é preciso analisar esses estudos com olho clínico.

Uma pesquisa recente, publicada no periódico Heart (pertencente ao British Medical Journal), informou que o consumo diário de 100 gramas de chocolate foi associado a menor risco de acidentes cardiovasculares, incluindo infartos e derrames.

O cardiologista José Rocha Faria Neto, presidente do departamento de aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia e professor titular da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Paraná, afirma que os resultados fazem sentido do ponto de vista biológico. "O cacau é rico em flavonoides, a exemplo da uva", comenta o especialista, lembrando que várias pesquisas já associaram o vinho tinto a menor risco cardiovascular.

Mas ele ressalta que estudos como o publicado na Heart são observacionais, assim como tantos outros trabalhos científicos que envolvem alimentos e saúde. "Você não sabe se as pessoas são mais saudáveis porque comem chocolate, ou se comem chocolate porque se sentem saudáveis", exemplifica. Além disso, é difícil ter certeza de que os voluntários comeram exatamente aquilo que disseram ter comido, e, ainda: o simples fato de participar de um estudo e controlar a alimentação pode levar à perda de peso e controle de fatores de risco cardiovascular.

Algo parecido acontece com o vinho tinto. Pesquisas robustas apontam benefícios para o coração (trabalhos até mais consistentes do que os realizados até hoje com o chocolate, conforme avalia Faria Neto). Mas também é preciso considerar que indivíduos que consomem apenas uma ou duas taças da bebida por dia podem ser pessoas moderadas por natureza, que também comem de forma equilibrada e aproveitam as coisas boas da vida, o que significa ter menos estresse.

Pegadinha.
Estudos observacionais podem confundir as pessoas a tal ponto que, recentemente, um grupo de pesquisadores organizou o que ficou conhecido como a maior pegadinha do jornalismo científico envolvendo dietas.

O trabalho, publicado no respeitado International Archives of Medicine, dizia que seguidores de uma dieta com baixo índice de carboidratos que consumiam 42 gramas de chocolate amargo todos os dias emagreceram 10% mais rápido que os adeptos da dieta que se abstiveram da guloseima.

A descoberta foi replicada em sites, revistas e jornais do mundo inteiro. Só que era tudo "mentirinha". Ou melhor: uma mentira com fundo de verdade e objetivo nobre. A pesquisa realmente foi feita e os resultados foram mesmo favoráveis ao chocolate. Mas o principal autor era um jornalista (com especialização em biologia, vale dizer), e a organização sem fins lucrativos à qual pertenceria, um tal de Instituto de Dieta e Saúde, na verdade não existe.

O mais importante, segundo o próprio pesquisador esclareceu depois, é que o estudo foi feito com apenas 15 pessoas. E quando se avalia um número grande de dados (peso, colesterol, bem-estar, sono e outros) de um número muito pequeno de sujeitos, é fácil conseguir um resultado "estatisticamente significante" - um segredo que todos os interessados no noticiário de saúde devem guardar na memória.

É chato, dá trabalho e pode sair caro consultar um bom médico ou nutricionista. Mas tente fazer esse esforço antes de consumir chocolate, gordura, vinho e outras delícias de forma indiscriminada com a desculpa de que quer testar os supostos benefícios para sua saúde.

Saldo.
Apesar de a história acima ter sido bem esclarecida pelos envolvidos, nem todos os veículos de imprensa que fizeram alarde sobre o poder emagrecedor do chocolate explicaram, depois, o que estava por trás da manchete saborosa.

Mas não há motivos para ficar "de mau" do chocolate. O saldo dos estudos, de acordo com especialistas, é positivo. "Diversas pesquisas já comprovaram cientificamente os benefícios do chocolate para o organismo. O cacau possui mais de 500 compostos, entre eles os flavonoides (em especial a catequina e a epicatequina, compostos antioxidantes), e o triptofano (aminoácido que contribui para a produção de serotonina e melatonina, neurotransmissores que promovem a sensação de bem-estar e desempenham papel importante na regulação do sono e do humor)", conta a nutricionista Monique Maia.

"A ação antioxidante dos flavonoides diminui a ação dos radicais livres, estimulando a produção do óxido nítrico, que por sua vez melhora a circulação sanguínea e, consequentemente, diminui a pressão arterial e a concentração de colesterol no sangue", descreve, ainda, a profissional.

Contraindicações.
Pessoas alérgicas ao cacau não podem consumir chocolate. Quem sofre de intolerância à lactose ou alergia à proteína do leite também deve ficar de olho na composição do produto. E os diabéticos, é importante frisar, devem escolher as versões "diet", levando em conta que o teor de gordura é mais alto para compensar a ausência do açúcar.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere que os médicos recomendem o consumo de até 30 gramas diários de chocolate do tipo amargo (com no mínimo 50% de cacau) por dia.

Mas não se pode ignorar o valor energético do alimento - ele deve ser computado ao balanço diário para que o consumidor não ganhe peso. Cerca de 25 gramas, ou apenas quatro quadradinhos, de um chocolate amargo de marca famosa tem 135 calorias. Ou seja: não dá para exagerar, ou o saldo na balança será desagradável.


A nutricionista ainda dá um conselho importante: "Fuja de chocolates que contêm gordura hidrogenada". O componente, também conhecido como gordura trans, foi condenado como "inimigo número um" da saúde cardiovascular. 

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