quinta-feira, 29 de outubro de 2015

MÃOS MARCADAS...

                       
Senhor!
Quando me deres 
O privilégio do renascimento 
No berçário do mundo, ante as necessidades que apresento 
E aquelas que não vejo, 
Eis, Senhor, o desejo 
Em que dia por dia me aprofundo:
Deixa-me renascer em qualquer parte, 
Entretanto, que eu possa acompanhar-te 
Onde constantemente continuas 
Trabalhando e servindo em todas as estradas 
Para que eu também tenha as mãos marcadas 
Como trazes as tuas...

Quanta ilusão quando me debatia 
Crendo que o desespero fosse prece, 
A rogar-te alegria e esperança 
Sem que nada fizesse!
Imitava na Terra o lavrador 
A temer a pedra e lama, vento e bruma, 
Aguardando milagres de colheita 
Sem plantar coisa alguma.
Entretanto, Senhor, agora sei 
Que o trabalho é divino compromisso, 
Estímulo do Céu guiando-nos os passos 
E que, atendendo à semelhante lei 
Puseste ambas as mãos em nossos braços 
Por estrelas de amor e de serviço.

Assim, quando efetues 
As esperanças em que me agasalho 
E estiver entre os homens, meus irmãos, 
Que eu me esqueça em trabalho 
E me lembre das mãos... 

Não me dês tempo para lastimar-me, 
Que eu busque tão-somente a luz que me acenas...
No anseio de seguir-te 
Quero o trabalho apenas.

Dá que eu seja contigo, onde estiveres, 
Uma rósea de paz... Que eu seja alguém 
Sem destaque e sem nome 
Que se olvide no bem.
E se um dia uma cruz de provas e de agravos 
Reclamar-me a tarefa e o coração, 
Não me largues ao susto a que me enleie, 
Ajuda-me a entregar as próprias mãos aos cravos 
Da incompreensão que me rodeie, 
Entre bênçãos e fé e preces de perdão!

Não consintas que eu volte ao tempo morto 
Da ilusão convertida em desconforto, 
Dá-me os calos da paz nas tarefas do bem, 
A servir sem perguntar a quem...
Ouve, celeste amigo, 
Aspiro a estar contigo, 
Longe de minhas horas desregradas, 
Onde sempre estiveste e sempre continuas 
Plantando o amor em todas as estradas,
Para que eu também tenha as mãos marcadas 
Como trazes as tuas...

             
                     Maria Dolores (Uberaba, 03 de Junho de 1972).


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