quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

RISCOS DOS ANTICONCEPCIONAIS VÃO DA LIBIDO EM CHEQUE ATÉ O AVC PRECOCE...

FONTE: Fernanda Aranda, TRIBUNA DA BAHIA.

Texto publicado pelo site Jolivi, parceiro da Tribuna da Bahia.


Se você for homem e quiser parar por aqui, tudo bem. Mas depois da minha conversa com o médico consultor da Jolivi, Dr. Roberto Franco do Amaral Neto, diria que é melhor você continuar.

Dr. Roberto me contou que, muitas vezes, a vida sexual dos casais pode estar sofrendo graves consequências por causa dela. Sim, a aclamada pílula anticoncepcional.

Mais do que isso. O remédio pode ter efeitos bem graves em parte das usuárias. Por isso, modestamente, digo que o interesse por este assunto deveria ser universal. E vou explicar o porquê.

A melhor amiga?
Vamos lá para o nosso Vale a Pena Ver de Novo.

Foi Regina Duarte quem espalhou para o mundo - quando interpretou a protagonista da série global "Malu Mulher", exibida entre 1979 e 1980 - que a liberdade feminina estava em uma pílula.

A cena legitimou o anticoncepcional como símbolo da nova mulher. Era a primeira vez que elas tinham a possibilidade de ter nas mãos o planejamento familiar. Controlar a hora de engravidar deixou de ser algo creditado apenas à sorte da tabelinha (nome dado àquela ginástica numérica para definir o período fértil e os dias do mês com maior possibilidade de fecundação).

Desde sempre, este controle sobre a hora certa de engravidar ou não permaneceu e permanece como um ônus ou bônus do ser feminino. A indústria até tentou...mas não conseguiu fazer este tipo de pílula para eles.

Pois é.

Em um mundo que ainda sofre impactos da cultura do machismo, num contexto em que a utilização da camisinha ainda não é uma negociação tão equilibrada, é legítimo - e até comemorado - o aparecimento de um mecanismo medicamentoso que promete evitar fecundações fora de hora – mas que não protege contra as inúmeras doenças sexualmente transmissíveis, é sempre bom ressaltar!

Em 2016, a pílula anticoncepcional comemora 56 anos de existência e nesta trajetória, com total apoio do eficiente marketing farmacêutico, tornou-se universal, absoluta, quase regra.

Algumas mulheres que eu conheço até a chamam de “melhor amiga” e fazem o uso sem moderação, sem cuidado, sem cautela e até sem ponderação. É aqui que começam as minhas críticas.

O anticoncepcional é usado como se não tivesse o status de remédio. Como se não tivesse efeitos colaterais. Como se pudesse ser usado por qualquer pessoa, sem que as suas características pessoais fossem levadas em conta.

Como se as pequenas letras da bula não trouxessem mensagens importantes.

Então, eu proponho um passo para trás antes que as sequelas apareçam. Porque talvez, só talvez, a pílula não seja uma boa opção para você ou para a sua parceira.

Para Luciana Crema, por exemplo, não foi.

Trombose em um ser saudável.
O funcionamento da pílula é simples: ela bloqueia o processo de ovulação feminina. Ou seja, por mais que haja a ejaculação e que o espermatozoide chegue às trompas, não haverá óvulo disponível para uma fecundação.

Para que isso aconteça, cada comprimido tem doses de hormônios sintéticos, que, dependendo da marca e dos compostos, podem ser diferentes.

Alguns medicamentos são resultado da combinação de derivados da progesterona e do estrógeno. Outras, entretanto, contêm apenas hormônios advindos da progesterona (progestogênicos).

Na década de 1960, quando surgiram as primeiras pílulas, foram fabricados os primeiros hormônios sintéticos, que chamaremos de “velhos progestogênicos”. Os que são utilizados por meninas e mulheres, hoje em dia, fazem parte da terceira e da quarta geração do hormônio, que vamos chamar de “novos progestogênicos”.

É de se imaginar que essas doses diárias de hormônio tragam algumas complicações para o organismo feminino, seja ele jovem ou não.

Luciana Crema não pensou em velha ou nova progesterona para escolher a sua. Ela tinha 19 anos, usava camisinha, mas tinha um medo de engravidar danado.

Escolheu tomar a pílula que era distribuída na rede pública de saúde, por acreditar que não poderia ter “melhor atestado de segurança” do que isso.

Passou anos em sequência fazendo uso do medicamento e sendo adepta de um modo de vida totalmente saudável. Alimentação impecável e a corrida diária, mesmo em dias de chuva, eram companheiras fiéis.

Até que há uns 3 anos, Luciana, bióloga, precisou fazer mais uma viagem profissional. Entrou no avião como tantas vezes fez em sua vida. A carreira estava de vento em polpa, mas naquela ocasião, o caminho de Luciana cruzou com uma trombose. Grave.

A vida saudável e a falta de antecedentes na família colocaram toda a luz nos riscos da pílula, que sempre existiram, mas nunca foram abordados de forma clara para Luciana.
Foram 15 dias de internação, a convivência com a angústia de não saber se voltaria a correr e a sensação de ter sido uma vítima de um medicamento que ela jamais considerou o risco.
E alguém alertou sobre ele?

2,5 vezes mais risco.
Evidências científicas de que a pílula está associada a um risco maior de problemas como a trombose e acidente vascular cerebral (AVC) são muitas.
Isso, em hipótese nenhuma, quer dizer que todas as mulheres invariavelmente vão ter trombose ou derrame por causa da pílula. Mas também é errado afirmar que a garantia é para 100% das usuárias.
De acordo com a American Medical Association, as ocorrências de tromboembolismo venoso são os mais temidos efeitos colaterais do anticoncepcional porque apresentam altos índices de morbidade e podem ser fatais.
Segundo um estudo de 2015 da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, os medicamentos que têm em sua composição a progesterona aumentam em até 4 vezes o risco de trombose.
A pesquisa comparou a incidência da doença em mulheres que faziam o uso do medicamento, tanto com os “velhos progestogênicos” quanto com os "novos progestogênicos", com aquelas que não tomavam. A base de dados foi de 10.562 mulheres, que apresentaram tromboembolismo, entre 15 e 49 anos.

A denunciante.
Trombose é uma das consequências da formação de trombos, uma forma de coagulação do sangue que impede a circulação. Quando este trombo ocorre nos vasos das pernas, os danos não são tão graves, gerando inchaço e profundo incômodo.
Mas, segundo o que me explicou Dr. Roberto, o trombo pode se formar nos pulmões, nos vasos do coração – causando infarto - e no cérebro, desencadeando o AVC.

Quanto menor a dosagem de hormônio da pílula, menor o risco, mas a situação é agravada caso a mulher seja fumante, tenha a pressão alta, seja diabética ou conviva com o histórico familiar de trombose.

“Déficit de vitaminas do Complexo B, especialmente das vitaminas B6, B9 e B12 – presentes em alimentos como bananas, batatas, brócolis, lentilhas, atum, fígado e leite – aumentam a substância da chamada homocisteína, um aminoácido formado pelo organismo humano, que também eleva o risco de trombo”, explica Dr Roberto.

“O problema é que a maioria dos médicos desconhece a necessidade de pedir exames para a identificação da homocisteína. A medicina ocidental é muito hábil em resolver o problema, mas quando o assunto é prevenir, pouca orientação é dada”, alerta o nosso consultor.

Impacto sexual. 
Todas estas informações, eu sei, já seriam suficientes para que as mulheres e também para que os homens fizessem um questionamento se o anticoncepcional é mesmo a melhor opção contraceptiva. Existe, claro, a parcela de beneficiadas, que garantem que o uso diminui problemas sérios, como cólicas, alterações na pele e até variações de humor.

Chamar os homens para este debate não é, de nenhuma forma, uma tentativa de minimizar o direito da mulher de escolher o que é melhor para o seu corpo.

Mas abrir espaço para que eles pensem no assunto é só uma forma de trazer à tona uma questão que, por vezes, fica embaixo do tapete. Até porque, caso a sua parceira não queira mais usar a pílula, juntos, vocês podem encontrar um outro caminho.

É preciso levar em consideração ainda que essa dose hormonal das pílulas também pode interferir diretamente na libido feminina. E, nestes casos, a busca de uma solução também é mais efetiva quando feita em parceria.

Vejam só as razões abordadas pelo nosso consultor.

“Durante a ovulação, o organismo feminino está inundado por hormônios, que permitem, entre outras coisas, a locomoção do óvulo”, explica Dr. Roberto.

“Bloqueando as ovulações, os anticoncepcionais também impedem a produção de outro hormônio, a testosterona, responsável pela vitalidade do apetite sexual”, continua o nosso consultor.

Isso significa que muitas mulheres podem estar com dificuldades na hora H e nem sequer cogitam que a pílula pode interferir neste processo.

Quando falamos em testosterona, as pessoas tendem erroneamente a achar que trata-se de uma substância presente somente nos organismos masculinos.

Entretanto, ela é fundamental para o funcionamento pleno do organismo da mulher.

Outro erro é abordar este hormônio somente pelo viés do "excesso". Mulheres que fizeram uso inadequado de anabolizantes e que, por isso, ficaram com excesso de pelos, voz grossa ou acabaram com sequelas mais graves, como câncer no fígado, são escolhidas como representantes únicas dos efeitos da "testosterona" no ser feminino. Óbvio que o uso indiscriminado traz sequelas ruins. Isso, no entanto, não significa que toda e qualquer dosagem de testosterona, inclusive a orgânica, é maléfica.

Por vezes, a falta dela é que faz mal.

E agora o viagra?
Com estas informações no encalço, também é preciso muita cautela para falar da nova sensação do momento, que é a possibilidade do surgimento de um “viagra feminino”.

A promessa da indústria é a oferta de um remedinho que vai agir na produção de dopamina e serotonina, neurotransmissores que também são importantes na construção do desejo sexual.

Dr. Roberto fica com receio que algumas mulheres, usuárias de pílulas anticoncepcionais e com a libido comprometida justamente por causa delas, acabem no alvo do novo comprimido focado no desejo.

Assim, para delírio da indústria farmacêutica, as mulheres se tornarão usuárias fiéis de mais um produto de uso contínuo. Se a pílula anticoncepcional era a melhor amiga, o remédio do desejo ficará como guardião do prazer. Roubada?

Sugestão. 

Antes de ir, preciso reforçar: esta não é uma campanha contra as pílulas anticoncepcionais, muito menos um balde de água fria para discutirmos o desejo sexual feminino.

A pílula ajudou Malu Mulher, mas não foi legal para Luciana.

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