FONTE: Camila Neumam, Do UOL, em São Paulo
(noticias.uol.com.br).
Pesquisas recentes
mostram que a cirurgia bariátrica pode trazer muito mais benefícios à saúde do
que a perda de peso. Ela pode ajudar no controle do diabetes tipo 2, a forma
mais comum de diabetes que atinge 13 milhões de pessoas só no Brasil.
O benefício foi
observado em pacientes obesos que depois de operados, além de terem perdido
muitos quilos, tiveram o diabetes tipo 2 controlado e suas complicações
amenizadas.
Estudos posteriores
observaram que a melhora ocorria também em diabéticos do tipo 2 com grau menor
de obesidade e que não conseguiam controlar a doença somente com medicamentos.
Cirurgia para obesidade
leve.
Com isso, a cirurgia
então indicada para diabéticos com obesidade moderada ou grave passou também a
ser indicada para pacientes com diabetes tipo 2 e obesidade leve, com IMC de 30
a 34,9, a partir de uma diretriz da Federação Internacional de Diabetes.
No ano passado, ao
menos 45 entidades internacionais que estudam tratamentos para o diabetes
assinaram um documento que indica a cirurgia para diabéticos do tipo 2 com
obesidade leve. A indicação, no entanto, deve ser considerada somente para os
casos nos quais a doença realmente não foi controlada com remédios e o paciente
corre risco de vida.
A Sociedade
Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e a Sociedade Brasileira de
Diabetes assinaram a diretriz. Mas dizem ainda esbarrar na falta de aprovação
do Conselho Federal de Medicina, que precisaria reformular uma resolução já
existente sobre as regras das cirurgias bariátricas no país.
A resolução 2.131, de
2015 --uma alteração da resolução de 2010--, recomenda a adoção da cirurgia
bariátrica em pacientes com diabetes tipo 2 com obesidade mórbida. Questionado
pelo UOL sobre a possibilidade de mudança a partir da diretriz
mundial, a assessoria do CFM diz ainda estudar a viabilidade.
O cálculo do IMC
(índice de massa corpórea) é feito dividindo o peso (em quilogramas) pela
altura (em metros) ao quadrado.
Quando os remédios não
resolvem.
Para o
endocrinologista Luiz Turatti, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes,
a discussão ainda é recente no Brasil, mas a base científica existente já
mostra que a cirurgia pode ser indicada para esses pacientes.
"Essa diretriz
surgiu como uma alternativa para pacientes que não estavam controlando a doença
nem com medicamentos. Precisávamos fazer alguma coisa por eles. Então
começou-se a estudar e viu-se que os benefícios que ocorriam nos mais obesos
também eram observados nos não tão obesos. Essa diretriz não veio do dia para a
noite", afirma.
Segundo Turatti, os
estudos mostram que a cirurgia do tipo bypass gástrico "melhora o controle
do diabetes, a função renal, o controle da pressão, além de auxiliar a perda de
peso".
A diretriz é reflexo
de uma nova tendência na cirurgia bariátrica, a de que ela não é somente eficaz
na diminuição do peso, mas na melhoria da saúde.
Muito além do peso.
Um obeso que se
submete à cirurgia bariátrica tende a melhorar outras comorbidades causadas
pelo excesso de peso, segundo o cirurgião bariátrico Ricardo Cohen, presidente
do Conselho Consultivo e Fiscal da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica
e Metabólica.
"Várias
sociedades do mundo resolveram fazer novos critérios para cirurgia bariátrica
baseados na gravidade do paciente e não só mais no peso e na altura. Por isso
está tudo sendo mudado. Temos um pedido de mudança no CFM e uma publicação
dessas sociedades que endossa", afirma Cohen.
Para o cirurgião,
está cada dia mais claro que a cirurgia bariátrica combate as comorbidades
típicas da obesidade, entre elas o diabetes tipo 2.
"O objetivo da
cirurgia metabólica não é só a perda de peso, porque quem tem muito peso perde
também a apneia do sono e controla várias doenças como o diabetes tipo 2, por
exemplo. Nesses pacientes a perda de peso é secundária e outros mecanismos da
cirurgia atuam na redução da resistência à insulina e aumento do metabolismo da
glicose pelas células, o que resultado no controle do diabetes tipo 2 e no
equilíbrio metabólico como um todo", afirma.
Entenda a doença.
O diabetes tipo 2
surge quando o organismo não consegue usar a insulina que produz de forma
adequada, ou produz insulina insuficiente para controlar a glicemia.
O diabetes tipo 2 se
manifesta com frequência na idade adulta por uma junção de predisposição
genética, sedentarismo, obesidade e má alimentação. Cerca de 90% das pessoas
que tem diabetes no país têm o tipo 2, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes.
No diabetes tipo 1,
pouca ou nenhuma insulina é liberada pelo corpo e a glicose fica no sangue em
vez de ser usada como energia. Para controlar a glicemia no sangue, é
necessária a reposição de insulina e planejamento alimentar. Nestes casos, a
cirurgia bariátrica não funciona para controlar a doença. A glicemia normal em
jejum não deverá ultrapassar os 100 mg/dL e duas horas após uma refeição, a
glicemia não deverá ultrapassar 140 mg/dL. O diabetes não tem cura, mas pode
ser controlado.
Algumas pessoas
conseguem controlar o diabetes tipo 2 com insulina, remédios e exercícios
físicos aliados a reeducação alimentar. Já outras apresentam maior resistência
e podem ter problemas nos rins, no coração, na circulação (que se não tratadas
causam amputações) e até cegueira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário