O hábito de marcar os exames de
colesterol logo no começo da manhã, para evitar a fome e as filas, está prestes
a mudar. A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial, a
de Cardiologia e a de Análises Clínicas se posicionaram oficialmente contra a
obrigatoriedade do jejum de 12h para exames de colesterol e triglicérides. As
entidades, responsáveis por estabelecer diretrizes para os laboratórios
médicos, pretendem formalizar o documento com a flexibilização do jejum em
janeiro de 2017.
"As sociedades fazem as
recomendações, mas o médico deverá avaliar os casos em que pode ser necessário
o jejum, de acordo com o estado metabólico do paciente", afirma Tania
Martinez, coordenadora de Ações Sociais para a Aterosclerose da Sociedade
Brasileira de Cardiologia.
O jejum ainda será recomendado em
situações específicas, por exemplo, quando o paciente possuir alta concentração
de triglicerídios no sangue (acima de 440 mg/dL, sendo que o normal é de até
150 mg/dL). Também o jejum de oito horas continua necessário para o diagnóstico
de diabetes em glicemia, apesar de existirem outros métodos para a realização
do diagnóstico dessa doença. Em geral, porém, os laboratórios devem realizar a
coleta de sangue independente do tempo de jejum.
Segundo as entidades médicas, o exame
deve refletir o estado metabólico cotidiano do paciente, em suas condições
habituais de dieta. Alex Galoro, presidente da Sociedade Brasileira de
Patologia Clínica, afirma que a principal vantagem dessa nova recomendação é
para o próprio paciente, que vai poder evitar o desconforto de fazer jejum por
12 horas.
"Para o laboratório, as
principais alterações vão ser na adequação do tipo de laudo e no fluxo do
trabalho, que deve diminuir no período da manhã", diz. Galoro diz
acreditar que menos de 10% dos pacientes precisará fazer jejum para o exame de
triglicérides.
O jejum, que já não era obrigatório
para os exames de colesterol e de HDL (conhecido como 'colesterol bom'), era
necessário para se verificar o nível de triglicerídios no sangue. "Como o
cálculo do colesterol total e das frações era feito em conjunto, precisava-se
medir o triglicérides para calcular as outras frações do colesterol",
explica Carlos Eduardo Ferreira, coordenador médico do Hospital Israelita
Albert Einstein. Com a evolução das técnicas laboratoriais, foi possível
alterar o método, que verifica os riscos de doença cardíaca no paciente.
"Faz quatro meses que o Albert
Einstein já não exige o jejum de 12 horas para os exames de
triglicérides", afirma Carlos. Com base em estudos internacionais, o
médico conta que a equipe do hospital fez uma reunião interna e decidiu
flexibilizar a exigência do jejum. "Muitos pacientes e médicos já não
seguiam essa orientação. Agora as sociedades médicas decidiram oficializar essa
prática, já que não existia razão para mantê-la", diz.
Carlos também é diretor de ensino da
Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e tem ajudado na elaboração das novas
diretrizes de medicina laboratorial propostas pelas entidades brasileiras.
Desde 2009, as sociedades médicas da
Dinamarca não recomendam mais o jejum em testes laboratoriais de lipoproteínas,
depois de realizarem exames em pacientes em momentos aleatórios do dia e não
verificaram alterações nas análises. A Sociedade Europeia de Aterosclerose e a Federação
Europeia de Química Clínica e Medicina Laboratorial publicaram este ano um
estudo também confirmando que o jejum não interfere nos exames. Nos Estados
Unidos, as sociedades médicas ainda discutem a regulamentação.
Com o posicionamento das sociedades
brasileiras, que ratificaram as diretrizes propostas pelas entidades
internacionais, laboratórios no País já estão sofrendo alterações. Existem
alguns, porém, de pequeno e médio porte que ainda não têm a tecnologia
necessária para realizar os procedimentos indicados. "Há um número
significativo desses laboratórios de menor porte, mas em volume de exames de
colesterol e triglicérides, eles não representam tanto do que é feito no
País", afirma Alex Galoro.
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