Sentir dor --ou qualquer incômodo-- na hora do
sexo não é normal. Mas se você passa por isso, não está sozinha. Estima-se que
21% das brasileiras sexualmente ativas sentem dor durante a relação, segundo
estudo do Prosex (Programa de Estudos em Sexualidade) da USP (Universidade de
São Paulo).
A mesma entidade fez uma pesquisa com cerca de 3
mil mulheres, de 18 a 70 anos, e chegou à conclusão de que mais da metade não
chega ao orgasmo. Entre os motivos, quase 60% apontaram a dor como principal
causa.
A psicoterapeuta sexual Sheila Reis, diretora de
relacionamento da Sbrash (Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade
Humana), recebe muitas pacientes com esse tipo de queixa. De acordo com ela,
quando não há um problema físico --diagnosticado pelo ginecologista-- a raiz da
questão está em fatores emocionais, como a educação repressora e crenças
religiosas.
"A mulher escuta desde cedo que 'vai doer' e
não é incentivada a conhecer o próprio corpo. A primeira vez dói e muitas
associam sofrimento ao sexo. Está errado". Além disso, o tabu de falar
sobre o assunto faz o público feminino guardar para si suas agonias.
O termo técnico para dor recorrente durante a
relação sexual com penetração é dispaurenia. Entretanto, os fatores que levam a
dor no sexo são diversos, e a penetração pode até não acontecer por conta da
dor na região. Por isso, as especialistas entrevistadas pelo UOL
dizem que a primeira atitude ao sentir qualquer incômodo na
transa é procurar o ginecologista para entender as causas e o tratamento mais
adequado.
A seguir, entenda as causas mais
frequentes para a dor:
Consultoria | Carolina Ambrogini, médica
ginecologista e especialista em sexualidade do ambulatório do Projeto Afrodite
da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); Sheila Reis, psicoterapeuta e
diretora de relacionamento da Sbrash; Cristiane Carboni, fisioterapeuta
pélvica, especialista em sexualidade humana pela Sbrash e mestre na
reabilitação do assoalho pélvico; Flávia Fairbanks, médica ginecologista pela
USP (Universidade de São Paulo).
·
Vaginismo.
Algumas mulheres
apresentam espasmos musculares involuntários na região genital. De acordo com a
médica ginecologista Flávia Fairbanks, o vaginismo pode ser leve, moderado ou
severo. No primeiro caso, a mulher sente incômodo, mas consegue transar. Quando
a dor é moderada, ela só consegue permitir a penetração eventualmente. Quando
atinge o último nível, o sexo se torna impraticável. As contrações são mais
comuns em mulheres ansiosas, que têm o costume de contrair o abdômen. "Ao
longo do tempo isso foge do controle e então a mulher precisa de ajuda para
conseguir relaxar a musculatura vaginal", afirma a fisioterapeuta
Cristiane. O tratamento para o vaginismo associa acompanhamento psicológico e
fisioterapia do assoalho pélvico, que envolve vagina e ânus.
·
Contraturas
musculares.
A vagina tem
músculos que podem ter contraturas musculares, como na cervical, por exemplo.
Esses pontos de dor aguda fazem com que a mulher sinta dor durante o sexo, já
que o local se torna rígido ao ser tocado pelo pênis. Aqui, o incômodo não é
tão agudo como no primeiro item. "É como um torcicolo vaginal",
explica a fisioterapeuta Cristiane. "A vagina precisa ser elástica, tanto
para receber a penetração quanto para a passagem do bebê". Segundo a especialista,
esse é o caso mais comum que chega à clínica de fisioterapia.
·
Endometriose.
É uma doença que
faz o tecido uterino crescer fora do útero. A endometriose gera reações
inflamatórias nos ligamentos baixos do útero, que são tocados pelo pênis na
hora da relação sexual. Esse contato causará um dor aguda. Toda vez que
sentimos dor, segundo Carolina, o organismo gera uma resposta muscular de
tensão. Ao passar pela situação várias vezes, a tendência é a musculatura
enrijecer ainda mais. Além da endometriose, outras ocorrências ginecológicas,
como miomas e inflamações pélvicas, podem provocar o incômodo. A médica
ginecologista Flavia Fairbanks afirma que, na maioria dos casos, o primeiro
sinal para descobrir muitas doenças é a queixa de dor no sexo. Leia
mais
·
Vulvovaginite.
Este item engloba
as famosas infecções na vagina, como candidíase e infecção urinária. Na maioria
dos casos, os sintomas envolvem coceira, irritação local, ardor e corrimento.
Em ocorrências do tipo, o melhor é evitar relações sexuais por conta de
possíveis incômodos e contaminação do parceiro.
·
Posições
sexuais.
É algo bastante
particular de cada mulher. A ginecologista Carolina Ambrogini alerta que pode
haver dor sem nenhum outro motivo mais grave quando o pênis bate no colo do
útero durante penetrações profundas, como na posição de quatro apoios.
Entretanto, se a dor for recorrente para diversas posições, o melhor é procurar
um especialista para investigar se há outra causa.
·
Transtornos
de desejo.
Não é só na fase
da menopausa que pode ocorrer queda da libido. Se a mulher não está excitada o
suficiente, tentar a penetração será desconfortável pela falta de lubrificação.
Entretanto, por algum desequilíbrio hormonal, que deve ser analisado caso a caso,
também pode acontecer de ela ter vontade de transar, mas não ficar lubrificada
suficientemente --esses casos são classificados como transtornos de desejo.
"Em ambos os casos, é importante ter um diálogo aberto com o parceiro para
falar a respeito. E procurar ajuda especializada", explica Carolina
Ambrogini.
·
Alergia
à camisinha.
Muitas mulheres
não se dão conta, mas têm alergia ao látex da camisinha, o que causa irritação
e ardência na região vaginal. Entretanto, não é motivo para fazer sexo
desprotegido, pois já existem preservativos antialérgicos.
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