FONTE: Yuri Abreu, TRIBUNA DA BAHIA.
Profissionais da área que trabalham em número reduzido,
sob forte pressão e nem sempre nas melhores condições de estrutura.
De um lado, uma
população carente e ávida por bons serviços de saúde e atendimento,
principalmente quando mais necessitam e que na maior parte do tempo não
encontram. Do outro, profissionais da área que trabalham em número reduzido,
sob forte pressão e nem sempre nas melhores condições de estrutura. O resultado
desse verdadeiro barril de pólvora é o aumento da violência e agressões,
principalmente do usuário do sistema de saúde para com médicos e enfermeiros em
todo o país.
De acordo com uma
recente pesquisa realizada pelos Conselhos Regional de Medicina e Enfermagem de
São Paulo – Cremesp e Coren-SP, respectivamente – apontou que quase 60% dos
médicos e aproximadamente 55% dos enfermeiros já haviam sofrido algum tipo de
violência no trabalho. Além disso, outro levantamento – feito pelo Conselho
Federal de Enfermagem (Cofen) em parceria com a Fiocruz – destacou que apenas
29% dos profissionais da área de enfermagem se sentiam seguros no ambiente de
trabalho em todo o território nacional.
Este último dado faz
parte do “Perfil da Enfermagem no Brasil”, realizado em 2013 e que traçou um
panorama deste trabalhador em todo o país. Aqui na Bahia, onde existem cerca de
mil 115 profissionais atuando, os dados revelaram que apenas 26,5% dos
entrevistados afirmaram que tinham proteção contra violência no ambiente de
trabalho. Dos tipos mais sofridos, entre verbal, física e psicológica, 65,6%
disseram que a última era a mais freqüente. Para 67,1% dos ouvidos na pesquisa,
a situação vivida acabou gerando um desgaste profissional.
“Vemos esta situação
com muita preocupação. Essa exposição intensa acaba se agravando por conta das
condições ruins de trabalho a qual estamos submetidos e, por outro lado, o
usuário quer fazer valer os seus direitos. Nós somos cerca de 60% da força de
trabalho na área de saúde e ficamos na linha de frente em contato com o usuário
por praticamente 24 horas”, afirmou a presidente do Conselho Regional de
Enfermagem da Bahia (Coren-BA), Maria Luiza Almeida.
Para o
vice-presidente do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb), Júlio
Braga, os locais mais perigosos atualmente para os médicos trabalharem estão
nas unidades de emergência e nas unidades de perícia do INSS. “Em algumas
dessas unidades deveriam ter detectores de metal para evitar a entrada de
determinados objetos durante a perícia. Como forma de nos precavermos, muitos
já estão avisando aos segurados que a resposta sobre a perícia só será dada
posteriormente, diante da incompreensão por uma eventual perda do benefício
pelo usuário”, disse.
Segundo eles, os
tipos de violência mais comuns sofridos por estes profissionais nos ambientes
de trabalho são de origem verbal, psicológica e física. “Soubemos de um caso de
um policial que agrediu um enfermeiro por conta da fuga de uma pessoa que
estava custodiada e recebendo atendimento no hospital. Outro caso foi em
Juazeiro, onde um promotor, que não havia se identificado como tal, agrediu uma
enfermeira por ela ter se negado a dar um prontuário de um paciente”, falou
Maria Luiza.
Contudo, apesar de
ser uma realidade mais comum no serviço público de saúde, os representantes do
Cremeb e do Coren-Ba afirmam que casos de violência contra profissionais da
área têm ocorrido no setor privado. “A insegurança é geral. A carência, a
demora no atendimento e as filas acabam gerando uma situação de estresse.
Muitas vezes, acuado, o médico acaba atendendo aquele paciente que grita mais,
em detrimento daquele que, de fato, está em uma situação mais grave”, pontuou
Braga.
Maior policiamento.
Para Maria Luiza e Júlio Braga, o atual quadro de insegurança tem feito com que
muitos profissionais peçam afastamento, entrem em depressão, utilizem
substâncias psicoativas e até mesmo cometam suicídios. Por outro lado, eles
apontam uma subnotificação no número de casos, pois nem todos os agredidos
prestam queixa da violência junto à Delegacia. Uma razão seria o medo de perder
o emprego, o que levaria a uma “acomodação” neste sentido.
“Nós tentamos ajudar
nesta situação de denúncia, apesar de termos como objetivo a fiscalização do
exercício profissional. Em situações extremas, até proibimos o médico de
trabalhar no local onde sofreu a agressão. Recomendamos também que ele procure
a Delegacia para prestar queixa e nós vamos até o diretor-técnico da unidade
para saber se algo está sendo feito, de fato, para coibir novas ações”, disse o
vice-presidente do Cremeb, Júlio Braga.
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