quinta-feira, 20 de abril de 2017

DEPRESSÃO E FALTA DE SUPORTE NA ADOLESCÊNCIA TÊM LEVADO MUITOS JOVENS AO SUICÍDIO...

FONTE: CORREIO DA BAHIA. 

Dados da OMS apontam o Brasil em 11º lugar no ranking mundial de países com maior número de casos.



A cidade de Monção, no interior do Maranhão, dormia silenciosamente, como de costume. Mas em uma casa, aquele silêncio típico se rompia por um alarido de dor: era o sofrimento da família de Thalia Menezes, adolescente de apenas 16 anos de idade, encontrada morta, no próprio quarto, onde gostava de passar as horas. Thalia se suicidou.

Segundo pessoas mais próximas da família, a adolescente escreveu uma carta, onde mencionou sofrer depressão e não conseguir conviver com os abusos sexuais sofridos dentro de casa, cometidos pelo padrasto, a quem Thalia chamava de pai. Embora tudo leve a crer que, de fato, Thalia se matou, a polícia do Maranhão entrou no caso e investiga se, de fato, houve crime sexual e violência doméstica, que possam ter levado a jovem a tirar a própria vida. Mas as dúvidas em volta da morte de Thalia não tangem somente os supostos traumas que desencadearam a depressão.

De acordo com o pai biológico da jovem, parentes comentaram que a filha dele participava, nas redes sociais, de um jogo cibernético conhecido como Blue Whale – ou Baleia Azul, na tradução livre do inglês. O jogo é originário da Rússia e traz desafios que têm atraído muitos jovens, principalmente, aqueles que têm problemas de autoaceitação. A Secretaria de Segurança Pública do Maranhão disse não descartar nenhuma hipótese, já que, para os dois casos, existem diferentes responsáveis, que serão identificados a partir da tomada de depoimentos e recolhimento de provas.

Tabu.

De qualquer modo, sejam motivados pela depressão ou porque decidiram entrar em um jogo de desafios macabros, muitos jovens hoje são potenciais suicidas. O fato de ter se mantido o tabu sobre o tema por muitos anos não adiantou, pelo contrário, só agravou a situação. “Os adolescentes sentem que não precisam ou que não podem conversar sobre esse desejo de tirar a própria vida por medo de julgamentos na família e entre amigos, na escola, no bairro”, defende a psicóloga Joelina Abreu, do Hapvida Saúde.

Na mídia, de um modo geral, a regra até aqui não se noticiar casos de suicídio, pois acreditava-se que, assim, seria possível evitar o chamado “efeito cadeia”, em que um suicídio inspiraria outros, e por aí vai. Mas a especialista entende que não é bem isso o que acontece: “Quando a imprensa noticia homicídio e feminicídio, por exemplo, isso não incentiva ninguém a também cometer esses crimes. Ao contrário, falar sobre o assunto mostra que todos nós nos tornamos um tanto guardiões um do outro, vigilantes públicos. Por que seria diferente com o suicídio?”, questiona a psicóloga, ao lembrar que o suicídio tem relação direta com problemas sociais e familiares, portanto, há como ser evitado.

Personalidade.

Ao contrário do que muitos podem pensar, a depressão juvenil não é um problema da adolescência. Ele começa a se instalar num momento delicado e crucial da vida de todas as pessoas: a infância. Segundo a psicóloga do Hapvida, é na formação da personalidade que a família mais precisa oferecer suporte e harmonia à formação do indivíduo, dentro de casa. “Até os 7 anos de idade, em média, nós formamos o que chamamos de personalidade. Nessa fase, a família precisa oferecer um cenário de conforto emocional e de equilíbrio racional para a criança. Assim, ela vai crescer sabendo lidar com emoções, principalmente, com as frustrações”, revela a especialista.

Essa harmonia proporcionada na infância não tem relação com o tipo de família, pondera a psicóloga. “Não importa se os pais são casados ou separados, se é uma família hetero ou homoafetiva, se a criança é criada pelos pais ou pelos avós. Essas questões são extraordinárias, oriundas de padrões de vida que variam de acordo com os valores que cada um carrega. Mas em todos esses lares, o amor, o acolhimento e a compressão devem ter sempre o maior peso”, orienta Joelina Abreu.

É claro que, mesmo com todo esse suporte, algumas famílias experimentaram o sabor amargo da perda precoce de um parente que se suicidou. Não se pode negar que fatores externos, como um stress em uma situação de perigo, ou de ameaça, coloquem o adolescente em conflito interno. “Todos nós fomos adolescentes e passamos por momentos de querer desaparecer do mapa, porque é natural você se sentir estranho nessa fase da vida, em que não se é adulto e não se é mais criança, mas o pensamento suicida real é potencializado em mentes vulneráveis, justamente as que não foram incentivadas a buscar o lado positivo de tudo, desde a infância”, diz a especialista.

Dados da OMS – Organização Mundial da Saúde – mostram que o Brasil aparece em 11º lugar no ranking de países com maior número absoluto de casos de suicídio. A cada 45 minutos, um brasileiro tira a própria vida: são 25 brasileiros que se suicidam por dia no país. O dado é mais preocupante quando se identifica que o suicídio é a 2ª maior causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos, de acordo com a ONG Centro de Valorização da Vida, uma das principais que monitora e estuda os casos no Brasil.

QUADRO UM: Jogo da Baleia Azul.

O chamado jogo da “Baleia Azul” foi originalmente idealizado na Rússia e se espalhou pelo mundo, por meio da internet. Nele, crianças e adolescentes são incentivados a cumprir missões e desafios macabros, em 50 etapas, que têm como objetivo final o suicídio do jogador. Os desafios vão desde a “assistir a filmes de terror” até automutilações, como “desenhar com estilete uma baleia no braço”. As regras vão aumentando o perigo a cada etapa, a fim de desafiar o jovem a identificar se quer, de fato, tirar a própria vida, que é o último desafio da brincadeira sem graça.

QUADRO DOIS: Induzimento ao suicídio.

A indução ao suicídio é um crime previsto no artigo 122 do Código penal Brasileiro e é classificado como um crime contra a vida, que consiste em provocar, incitar ou estimular alguém a suicidar ou prestar-lhe auxílio para que o faça.

Penas.

Indução de suicídio com resultado de morte, a pena é de 2 a 6 anos de detenção. Se o resultado for apenas lesão corporal, a pena varia de 1 a 3 anos de prisão.

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