FONTE: Roni Caryn Rabin, Do New York Times, (http://vivabem.uol.com.br).
A Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO,
na sigla em inglês para American Society of Clinical Oncology), que
representa vários dos mais importantes médicos de câncer do país, está chamando
a atenção para a ligação entre o álcool e o câncer. Em uma declaração publicada
na terça-feira no Journal of Clinical Oncology, o grupo cita
evidências de que mesmo uma quantidade pequena de bebida alcoólica pode
aumentar o risco de câncer de mama e de um tipo comum de câncer do esôfago.
Segundo o grupo, quem bebe muito corre um risco
bem maior de ter câncer de boca e garganta, da laringe, de fígado e, em menor
grau, câncer colorretal.
"A mensagem não é 'Não beba'. É, se você
quer reduzir o risco de ter câncer, beba menos. Se você não bebe, nem
comece", explica a doutora Noelle LoConte, professora associada da
Universidade de Wisconsin-Madison e principal autora do comunicado da ASCO.
"É diferente do tabaco, para o qual dizemos, 'Nunca fume. Não comece'.
Esse conselho é um pouco mais sutil."
Outros grupos médicos já citaram o álcool como
possível causador de câncer. No entanto, esta foi a primeira vez que a ASCO
tomou uma posição sobre o tema.
Poucos adultos identificam o consumo de
álcool como um fator de risco para o câncer.
A quantidade de pessoas que bebe álcool em geral,
assim como quem bebe muito e quem tem problema de alcoolismo está aumentando
nos Estados Unidos entre todos os segmentos da sociedade, incluindo mulheres,
idosos, minorias étnicas e raciais e os pobres, de acordo com várias pesquisas.
Ainda assim, poucos adultos, quando perguntados,
identificam o consumo de álcool como um fator de risco para o câncer, mesmo que
a vasta maioria conheça outros fatores, como fumar ou se expor ao sol, segundo
uma pesquisa feita recentemente pela ASCO com 4.016 adultos. Menos de um em
três adultos identificou o álcool como um fator de risco de câncer. (A maioria
também não mencionou a obesidade.)
O grupo médico pede novas iniciativas de
saúde pública para diminuir o consumo do álcool, desde o aumento dos
impostos até as restrições nas propagandas dirigidas a menores de idade, como a
proibição de anúncios de bebidas alcoólicas no metrô e nos ônibus de Nova York,
que entrará em vigor em janeiro. O grupo também se opõe à "lavagem
rosa" que ocorre quando as empresas de bebida cobrem seus produtos com
fitas dessa cor para aumentar as vendas, prática à qual se opõe "dada a
evidência consistente da ligação entre o consumo de álcool e um aumento no
risco do câncer de mama".
Estudo confirmou o papel do álcool no
desenvolvimento da doença.
Para produzir a declaração, os pesquisadores da
ASCO revisaram estudos já publicados e concluíram que 5,5 por cento de todos os
novos casos de câncer e 5,8 por cento de todas as mortes causadas pela doença
no mundo podem ser atribuídas ao álcool. O estudo afirmou claramente que as
bebidas alcoólicas têm um papel causal nos cânceres de garganta e de pescoço,
de faringe, do fígado e do cólon, assim como no carcinoma de células escamosas
do esôfago e, em mulheres, no câncer de mama.
Para as mulheres, uma dose de bebida alcoólica
por dia pode aumentar o risco de câncer de mama, segundo um relatório divulgado
em maio pelo Instituto Americano de Pesquisa do Câncer e pelo Fundo de Pesquisa
Mundial do Câncer e citado pela ASCO. Esse relatório analisou 119 estudos,
incluindo dados de 12 milhões de mulheres e mais de um quarto de milhão de
casos de câncer de mama, e concluiu que há fortes evidências de que o consumo
de álcool aumenta o risco de câncer pré e pós-menopausa, e que beber uma taça
pequena de vinho ou de cerveja todos os dias – cerca de dez gramas de álcool –
aumenta o risco de câncer de mama antes da menopausa em cinco por cento e
depois da menopausa em nove por cento.
Mesmo aqueles que bebem moderadamente,
definidos pelo Centro de Controle de Doenças como uma dose diária para mulheres
e duas para os homens, enfrentam quase o dobro do risco de câncer de
boca e de garganta e mais do que o dobro do risco de carcinoma de células
escamosas do esôfago, comparado com quem não bebe. Os bebedores moderados
também enfrentam riscos mais elevados para cânceres da faringe, câncer de mama
nas mulheres e câncer colorretal.
O risco para quem bebe muito – definido como
aqueles que tomam oito ou mais drinques para as mulheres e 15 ou mais para os
homens por semana, incluindo os bebedores compulsivos – são muito mais
elevados. Quem bebe muito tem quase cinco vezes mais possibilidade de ter
câncer de boca, de garganta e do esôfago do que quem não bebe; quase três vezes
o risco de câncer na laringe; e duas vezes mais risco de câncer no fígado, além
de riscos aumentados de câncer de mama e colorretal.
"Ao olharmos para esses números, podemos ver
o álcool como um fator contribuinte, que certamente tem um papel causal",
afirma o doutor Hudis.
Câncer de boca, mama e colorretal estão
entre os causados pelo álcool.
A Agência Internacional de Pesquisa sobre o
Câncer (IARC na sigla em inglês para International Agency for Research on
Cancer), que faz parte da Organização Mundial de Saúde, classificou pela
primeira vez o consumo de bebidas alcoólicas como carcinogênico para humanos em
1987, ligando-o aos cânceres de boca, garganta, faringe, esôfago e fígado, diz
Susan Gapstur, vice-presidente de epidemiologia da Sociedade Americana do
Câncer.
Desde então, segundo ela, vêm se acumulando mais
e mais evidências que ligam o álcool a um grupo cada vez maior de cânceres,
incluindo o colorretal e, nas mulheres, o de mama. Um relatório mais recente da
IARC concluiu que o álcool "é a causa de cânceres da cavidade oral,
faringe, laringe, esôfago, colorretal, fígado e mama". (O câncer de
esôfago é em geral o carcinoma de células escamosas.).
"A história do álcool é consistente e vem
sendo desvendada parte por parte ao longo do tempo, e continuamos a aprender
mais sobre os mecanismos envolvidos. Não temos testes aleatórios, mas algumas
vezes quando você começa a olhar para a coerência da evidência, incluindo a
epidemiologia observacional, os estudos de laboratório e as pesquisas de
mecanismo, passa a ver a imagem com mais clareza", explica Gapstur.
Uma das maneiras em que as bebidas podem aumentar
o risco de câncer é porque o corpo metaboliza o álcool em acetaldeído,
substância que causa mutações no DNA, de acordo com Gapstur. A formação do
acetaldeído começa quando o álcool entra em contato com as bactérias da boca, o
que pode explicar a ligação entre o álcool e os cânceres de garganta, faringe e
esôfago, diz ela.
A doutora Anne McTiernan, cientista do Centro
Fred Hutchinson de Pesquisa do Câncer e autora de um dos primeiros relatórios
sobre álcool e câncer de mama, diz que ficou satisfeita com o fato de os
oncologistas estarem se concentrando no álcool.
"Isso dá peso à notícia. Mostra que eles são
sérios sobre o assunto e querem colocar seu nome em jogo para pressionar por
mudanças nas leis, além de aceitarem dizer que até mesmo pequenas quantidades
de álcool podem aumentar os riscos de certos cânceres em um pequeno grau",
diz ela.
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