FONTE: Helena Bertho, do UOL, (http://estilo.uol.com.br).
Metade
das garotas ainda tem
vergonha de falar sobre menstruação. Na contramão, um movimento tem procurado
desmistificá-la e lembrar que é algo natural. E, como parte desse movimento,
a prática de fertilizar hortas e plantas com o sangue menstrual ganha espaço.
A ideia central é a de que o sangue é rico em
nutrientes, e, portanto, seria benéficos para as plantas e um desperdício
jogá-lo fora. Mas será que isso é seguro? Funciona? Como faz?
"Faz bem para as plantas, dá
para notar a diferença"
O quintal da casa da socióloga Mariana Macchini,
34 anos, é repleto de vasos e canteiros. Manjericão, mamão, babosa... Diferentes
tipos de plantas crescem ali e ela acredita que, quando recebem uma rega com
sangue menstrual, ficam "mais vivas". Há dois anos ela é adepta da
prática.
"Isso só foi possível por causa do coletor
menstrual, porque
ele coloca a gente em contato com o sangue. Aí eu acabei lendo sobre isso na
internet, conversei com amigas e decidi seguir a ideia", conta.
Para adubar os vasos, Mariana mistura uma parte de
sangue para dez de água e despeja na terra. "Não é nada sistemático.
Quando tiro o copinho em casa, dissolvo na água, escolho um vasinho e rego. Já
me falaram que faz bem para as plantas, e faz todo sentido! É uma junção de
nutrientes. Tem época que escolho um vaso para regar sempre e dá para notar a
diferença", afirma.
Mas tem cheiro? E gosto?
A naturóloga Bárbara Vizoli, 23 anos, soube da prática
da fertilização com sangue ao assistir a uma palestra sobre os ciclos
femininos. "Ela falou de anticoncepcional, das fases da mulher, que são
como as da lua, e falou sobre 'plantar a lua". Plantar a lua é um dos
nomes dados à prática de usar a menstruação para fertilizar a terra.
Depois da palestra, já começou a usar o coletor e,
já na primeira menstruação, usou o sangue para regar as plantas que tinha em
casa. "Foi muito especial".
Isso tem um ano e, desde então, ela aduba as
plantas com o sangue menstrual. "Não fica cheiro na terra nem atrai
inseto. Também não muda o sabor dos temperos, sempre uso o orégano. Mas a diferença
é visível. Tinha um orégano morrendo, 'plantei a lua' e logo apareceram
folhinhas verdes", conta.
A ciência concorda com elas?
Apesar de ter gente que diz que a prática é antiga
e parte de rituais indígenas, não existem muitos estudos ou materiais científicos
sobre ela. Mas, segundo as biólogas entrevistadas pela reportagem, considerando
a composição do sangue, é provável que ele tenha, sim, efeito nutritivo para as
plantas.
"O sangue é composto, basicamente, por plasma
e células sanguíneas (hemácias, leucócitos e plaquetas). Dentre essas, as
hemácias são constituídas de hemoglobinas, que contêm ferro em sua estrutura,
portanto, é uma fonte de ferro", explica Fernanda Mendes, doutoranda em
botânica pela USP.
"Na composição das células, há poucas quantidades
de elementos inorgânicos e grandes quantidades de elementos orgânicos, como
carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. A disponibilidade de nutrientes no
solo é um fator fundamental para o desenvolvimento das plantas".
Ela reforça que, de fato, a matéria orgânica
decomposta, como o sangue, contribui para os vegetais, mas que as concentrações
desbalanceadas dos nutrientes podem ser prejudiciais.
"Não há comprovação científica, mas se a
pessoa usa coletor e gosta de cuidar das plantas, acho que pode ficar à vontade
para colocar o sangue lá e observar o que acontece. As plantas sempre dão
sinais quanto a déficits ou excessos. Basta observar".
A prática pode transmitir
doenças?
Sobre o risco de contaminar as plantas e,
posteriormente, quem ingeri-las, a bióloga Nelsimar Monnier afirma que é
inexistente. "Para a planta não transmite a doença, porque são organismos
diferentes".
No entanto, ela alerta que o manuseio do sangue
pode, sim, trazer riscos para a saúde. "O sangue é material biológico.
Existem doenças na corrente sanguínea e o contato com ele pode ser uma porta
para a transmissão".
A própria mulher que menstrua não corre risco de
contrair nada que já não possa ter do próprio sangue, mas outras pessoas que
participarem do manuseio ou possam entrar em contato com sangue correm riscos.
Por isso, Nelsimar não recomenda a prática,
considerando adubos inorgânicos mais seguros. Mas, se a mulher estiver com a
saúde em ordem ou for a única a mexer no sangue, fazer a adubação não é
considerado perigoso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário