FONTE: Fernando Cymbaluk, Do UOL, em São Paulo, (http://noticias.uol.com.br).
Uma vacina experimental melhorou a
resposta imunológica em camundongos com melanoma, um tipo de câncer de pele. De
acordo com pesquisa publicada na sexta-feira (10) na revista "Science
Immunology", 87% dos camundongos que receberam a vacina rejeitaram os
tumores e apresentaram maior sobrevida. A pesquisa com a vacina foi realizada
pela equipe de Yanqi Ye, do departamento de engenharia biomédica da
Universidade da Carolina do Norte.
Os resultados positivos são
creditados ao método de aplicação da vacina, que utiliza micro-agulhas para
injetar pedaços de proteínas de tumor e melanina sob a pele. A melanina,
proteína natural associada ao pigmento da pele, possibilita o aquecimento do
local da aplicação, o que leva a uma maior eficácia da vacinação. Os pedaços de
células de tumor funcionam como antígeno, que desperta o sistema de defesa do
organismo para combater o câncer.
"Esse estudo foi feito mais para
avaliar um novo método de vacinação do que a vacina em si", explica
Vladmir Cordeiro de Lima, pesquisador do grupo de imuno-oncologia translacional
do A.C.Camargo Cancer Center. "O calor promove aumento de fluxo de sangue
e outros fenômenos que auxiliam sistema imunológico e potencializam a
vacina", diz o médico, que não participou do estudo publicado na
"Science Immunology".
Outra característica da vacina é a
utilização de uma matriz sólida para levar o composto de antígeno e melanina
para a pele, em vez de um solvente líquido -- como o que existe para as vacinas
que tomamos contra outras doenças. A matriz sólida utilizada é o ácido
hialurônico, um polímero biológico. Com a matriz sólida, a liberação dos
antígenos do tumor é mais lenta.
Dos camundongos que receberam a
vacina sem a utilização dessa técnica, apenas 16% apresentaram uma redução no
crescimento do tumor. Nesse grupo, não houve melhora na sobrevida.
"O desenvolvimento de vacina
contra câncer é um caminho longo a ser percorrido. O estudo é muito promissor,
mas ainda deve passar por outras fases", diz Lima. Ele lembra que, até
hoje, apenas uma vacina contra câncer, para tratamento de tumor na próstata,
foi desenvolvida e registrada.
Os pesquisadores devem agora realizar
novos estudos antes do desenvolvimento de testes com seres humanos.
Vacina contra o
câncer é diferente de vacina contra gripe.
As vacinas são substâncias que
despertam o sistema imunológico para combater algum invasor. Mas a semelhança
entre a vacina para combater vírus e bactérias, que causam doenças como gripe,
dengue e febre amarela, e a vacina contra o câncer param aí. Diferentemente do
que ocorre para a gripe ou a febre amarela, a vacina contra o câncer é dada em
pessoas que já estão com câncer ou que tiveram a doença e querem reduzir as
chances dela retornar.
"Na vacinação contra câncer, a
ideia é tirar uma amostra de tumor do paciente e criar uma vacina individual. O
tumor de uma pessoa não é igual ao de outra. E em um mesmo indivíduo, os
tumores são diferentes", explica Lima, do A.C.Camargo. Ao se injetar os
pedacinhos de tumor, a vacina estimula a uma resposta imunológica eficaz contra
ele. No futuro, tratamentos como a quimioterapia poderiam ser substituídos por
vacinas.
O oncologista explica que outra
diferença entre as vacinas convencionais contra outras doenças e a vacinação
para combater tumores está na dificuldade de desenvolvimento de produtos finais
eficazes. "O genoma do vírus é bem mais simples que o nosso. Já a célula
tumoral vem de uma célula normal e suas proteínas são parecidas com as
nossas", afirma o médico.
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