Especialista explica
como esse hábito pode facilitar o acesso de bactérias e vírus ao ouvido.
Crianças pequenas que
tomam mamadeira deitadas correm maior risco de ter infecção no ouvido. O E+ falou
com um especialista para entender porque uma atividade tão corriqueira como dar
a mamadeira para um filho pode aumentar a incidência das otites - e porque
mamar no peito não apresenta o mesmo risco.
Primeiramente, é
preciso entender a função da trompa auditiva. Ela é um canal que conecta as
narinas ao ouvido médio (parte do ouvido que é limitado pela membrana
timpânica) e que tem como função levar ar ao aparelho auditivo.
Esse ar serve tanto
para propagar o som no ouvido (fazendo, assim, com que escutemos) mas também é
fundamental para o nosso equilíbrio, uma vez que é no ouvido que se equilibra a
pressão interna do corpo com a pressão do meio externo. Tudo isso com o ar
transportado através da trompa auditiva.
O pediatra do Centro de
Estudos e Pesquisas João Amorim (Cejam), Mário Bracco, diz que tomar
mamadeira deitado pode facilitar com que tanto o líquido ingerido quanto uma
possível regurgitação da criança parem na trompa auditiva, podendo servir
de transporte para vírus e bactérias até o ouvido.
“Regurgitação do leite
é normal até o primeiro ano de vida. Isso é uma imaturidade do trato
gastrointestinal e o período de sua ocorrência varia de criança para criança.
Mas é fisiológico, natural do ser humano”, explica Mário. Além disso, ele fala
que quando há líquido na trompa auditiva, esta região se expande e isso também
favorece a chegada de vírus e bactérias até o aparelho auditivo. Por isso, o
ideal é que crianças não tomem mamadeira deitadas.
Por outro lado, a mesma
recomendação não é feita para crianças que mamam no peito. Isso ocorre porque
os bebês precisam fazer mais força para mamar no peito do que na mamadeira e a
movimentação da musculatura facial impede que o leite vá parar no ouvido.
“Mesmo que isto ocorra,
o leite materno é estéril e, assim, há menor chance de contaminações”, fala o
pediatra. Mais do que isso, o leite materno possui substâncias protetoras que
ajudam no desenvolvimento do sistema imunológico da criança.
Mário explica que o
sistema de defesa do nosso corpo contra agentes patogênicos continua se
desenvolvendo durante os dois primeiros anos de vida. “O sistema imunológico da
criança é protegido pelo leite materno, pelas vacinas e pelo contato com os
vírus e bactérias que estão no ambiente que são os agentes patogênicos comuns”.
Entre os principais
sintomas da otite estão dor no ouvido, perda do apetite e da força para mamar,
febre alta e fraqueza para realizar qualquer atividade. Ela pode ter origem
bacteriana, viral e até ambas. O pediatra explica que a diferenciação entre as
duas está na intensidade com que os sintomas acometem a pessoa. “É preciso que
se faça o acompanhamento do progresso da doença. Uma otite bacteriana tem
progresso muito mais rápido do que uma otite viral”.
É importante ressaltar
que as otites em crianças possuem diversos fatores para sua causa e não somente
o fato de tomar mamadeira deitado. Entre os outros fatores estão, por exemplo,
predisposição genética e até tabagismo dos pais. “E o antídoto para tudo isso é
tomar o leite materno, não só pelos antibióticos presentes nele, como também
pelo fato da criança fortalecer a musculatura facial”, reforça Mário.
O Fundo das Nações
Unidas para a Infância (UNICEF) recomenda que o aleitamento materno seja
feito de forma exclusiva até os seis meses de vida. A partir desse período, o
desmame pode ser feito com a introdução gradual de alimentos líquidos e
pastosos.
No entanto, o leite
materno segue como fonte importante de energia, proteína e outros nutrientes,
pelo menos até os dois anos de vida da criança. “O desmame aos dois anos não é
regra obrigatória. Ele pode ocorrer antes ou depois e deve ser um acordo entre
a mãe e a criança”, explica Mário.
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