Quando James Harrison tinha 14 anos, foi submetido a
uma cirurgia no peito, em que necessitou de uma grande quantidade de sangue de
outras pessoas. Foi quando decidiu que doaria sangue sempre que pudesse - e foi
o que passou a fazer assim que completou 18 anos, mesmo tendo aversão a agulhas
de injeção. Dez anos depois, médicos descobriram que ele tinha o que chamaram
de "sangue mágico".
O sangue do australiano traz grandes quantidades de
um raro anticorpo, o que pemitiu a criação de um tratamento para salvar milhões
de vidas. Mais especificamente, vidas de bebês com a doença hemolítica do
recém-nascido (DHRN). Diante disso, Harrison dedicou seis décadas doando sangue
e plasma regularmente. Por conta disso, ficou conhecido como "o homem do
braço de ouro".
No entanto, agora que completou 81 anos, o
australiano superou a idade limite para ser doador e, na sexta-feira de 11 de
maio, fez sua última doação. O Serviço de Doação de Sangue da Cruz Vermelha
Australiana calcula que Harrison ajudou a salvar cerca de 2,4 milhões de bebês
ao longo da vida.
Segundo o jornal local Sydney Morning Herald,
Harrison fez 1.172 doações: 1.162 pelo braço direito e 10 pelo braço esquerdo.
Quando começou a doar, seu sangue foi considerado tão importante que recebeu um
seguro de vida no valor de 1 milhão de dólares australianos (R$ 2,7 milhões).
O que é a DHRN?
A doença hemolítica do recém-nascido é um transtorno
em que a mãe produz anticorpos no sangue durante a gravidez que destroem os
glóbulos vermelhos do feto.
Isso ocorre quando a mãe e o bebê têm tipos de sangue diferentes - a maioria
dos casos, quando a mãe tem sangue Rh negativo e o feto tem sangue Rh positivo,
herdado do pai.
A doença não causa nenhum problema na mãe, mas pode
fazer com que o bebê fique anêmico ou tenha icterícia, e pode prejudicar seu
desenvolvimento. Em muitos casos, pode levar à morte.
Anti-D.
Durante os anos 1950, os cientistas haviam
descoberto que o anticorpo da mãe que causa prejuízos ao feto, chamado
imunoglobina Rh, conhecido na Austrália como Anti-D, também poderia ser usado
para criar o tratamento para a doença. Os médicos descobriram que o sangue de
Harrison continha, em grande quantidade, o composto Anti-D capaz de curar bebês
com DHRN.
"Eles usavam o plasma do sangue que eu doava e
já o levavam a laboratórios para produzir injeções de Anti-D", contou
Harrison à BBC. O anticorpo da mãe que causa danos ao feto, chamado de
imunoglobina Rh, conhecido na Austrália como Anti-D, também é usado para
produzir um tratamento para DHRN.
"Essas injeções são aplicadas em mulheres com
sangue Rh negativo. A primeira injeção é dada nos primeiros meses de gravidez e
a segunda é dada depois do parto", explica Harrison. A injeção com
imunoglobina Rh provoca a destruição dos glóbulos vermelhos do feto que
entraram na circulação materna, impedindo que o corpo da mãe produza anticorpos
perigosos que pudessem causar complicações no bebê ou complicar futuras
gestações.
'Fim de uma era'.
"Pouquíssima gente tem esses anticorpos em
concentração tão alta (como no caso de Harrison)", disse Jemma Falkenmire,
do Serviço de Doação de Sangue da Cruz Vermelha Australiana. "O corpo dele
produz grande quantidade e, mesmo quando doa sangue, seu organismo continua
produzindo mais", completou.
Harrison se diz feliz por ter ajudado a salvar a
vida de tantos bebês. E conta que doou seu plasma sempre que o serviço de
doação o solicitou. Com isso, ele contribuiu para o tratamento de milhões de
mulheres na Austrália, incluindo sua própria filha.
"Minha própria filha foi uma das que receberam
as injeções. O filho dela, meu neto, já está com 23 anos. Isso me deixa muito
feliz, porque pude ter um neto saudável e ajudar outras pessoas a terem
também", afirmou.
"Durante minha última doação, na sexta-feira,
chegaram várias mães com seus bebês para me agradecerem pelo que eu havia feito
por elas", conta o australiano. "Fico triste que tenha acabado, é o
fim de uma era para mim", completou.
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