A duas semanas do fim da campanha nacional de vacinação, o Estado de São
Paulo já corre o risco de enfrentar uma epidemia de gripe durante o inverno,
por causa da baixa procura pelo imunizante. A previsão é de aplicar a vacina em
10,7 milhões de pessoas, integrantes dos grupos de risco, mas até anteontem
somente 4,3 milhões - cerca de 40% - tinham sido imunizadas. No País, a
situação não está muito melhor: a taxa é de 50%.
Neste ano, no Estado, foram registrados 146 casos de síndrome
respiratória grave causada pelo influenza, dos quais 25 resultaram em morte.
Mas a primeira grande frente fria, com forte redução da temperatura e
características da estação mais fria, só chega ao Estado neste fim de semana,
já com previsão de geada na Serra da Mantiqueira.
De acordo com o coordenador de Saúde do Estado, Marcos Boulos, os números
ainda são menores que os do ano passado, quando houve 1.021 casos e 200 óbitos,
mas preocupam porque o período propício à doença está no início. "Estamos
com um número importante de casos e vai começar, ou já está começando, uma
epidemia. Vamos ter um aporte grande casos em junho e o ápice em julho, durante
o inverno."
Segundo ele, a melhor maneira de prevenir a doença é a vacinação.
"Temos de aumentar a cobertura nos grupos de risco, que está muito
baixa", observa Boulos. "Temos cobertura um pouco maior que 50% dos
idosos, mas o porcentual de crianças vacinadas está em torno de 27%, o que é
bem baixo. Não atingimos o nível desejado nem entre os profissionais de
saúde."
O índice mais baixo de vacinação, conforme o coordenador estadual,
encontra-se entre as gestantes, em torno de 20%. "Há médicos que não
indicam a vacinação para grávidas, o que nos parece um erro." Conforme o
coordenador, a secretaria ainda pretende continuar a vacinação na rede pública
enquanto houver vacina - a campanha nacional termina no dia 1º.
Neste ano, o Instituto Butantã enviou 60 milhões de doses ao Ministério
da Saúde para serem usadas em todo o Brasil. Considerando os dados do
ministério até ontem, ainda falta imunizar 28,4 milhões de pessoas - de um
público-alvo inicial de 54,4 milhões.
Necessidade.
A vacina previne contra os vírus influenza A (H1N1), A (H3N2) e B.
"A vacinação é fundamental para evitar as complicações decorrentes da
gripe, que podem se tornar muito graves.", diz Boulos. Ele destaca que a
vacina não provoca gripe em quem a toma, pois é feita com fragmentos do vírus,
que apenas protegem o organismo contra a doença.
Celso Granato, professor de infectologia da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp), explica que é importante que a imunização seja feita
anualmente, uma vez que os subtipos dos vírus da gripe mudam - os diferentes
causadores circulam pelo mundo e sofrem mutações com frequência.
No inverno mais recente dos Estados Unidos, o H3N2 infectou mais de 47
mil pessoas e provocou diversas mortes, principalmente de crianças e idosos.
"A princípio, nós não estamos correndo o mesmo risco dos americanos porque
a nossa vacina foi preparada após a mutação desse vírus e a deles, não. Nós não
teremos problemas, mas desde que haja vacinação", diz Granato.
O especialista ressalta que a cobertura vacinal no Brasil não costuma ser
muito alta, e ele teme que a preocupação com a vacina da febre amarela tenha
interferência no comportamento. "As pessoas estavam preocupadas com os
efeitos colaterais." Na prática, porém, a resistência à vacinação
continua.
As chances de contrair o vírus são iguais para todos, mas as complicações
atingem mais as crianças e os idosos. "Crianças com menos de 2 anos não
têm memória imunológica, ou seja, não têm defesas que os adultos já adquiriram
contra a gripe. Já os idosos podem ter complicações por causa de doenças
crônicas", completa Granato.
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