Sente dor ao movimentar
a mandíbula ou ouve estalidos quando a mexe? Isso pode significar que você
sofre de disfunção temporomandibular (DTM), patologia que afeta a articulação
temporomandibular (ATM) – estrutura que conecta a mandíbula aos ossos temporais
do crânio. Além desses sintomas, outros mais comuns são dor de cabeça, na face,
no ouvido, nos olhos, na coluna cervical ou ainda a limitação de movimentos. O
travamento da região mandibular é uma das principais consequências da
DTM.
A origem da DTM é
multifatorial. De acordo com a especialista em disfunção temporomandibular e
dor orofacial Simone Carrara (CRODF: 2725), é raro que o paciente apresente
apenas uma causa para a ocorrência da disfunção. “São vários hábitos que
favorecem o surgimento da doença: bruxismo, pré-disposição por algum fator
genético, trauma na mandíbula, lassidão ligamentar, que é quando a pessoa tem
ligamentos frouxos, tudo isso contribui para que o indivíduo tenha uma maior
tendência em desenvolver DTM”, explica.
O diagnóstico começa
com a anamnese, uma série de perguntas que o profissional da saúde faz para
entender qual a doença do paciente. Nela, ele examina de perto a história
clínica e realiza um exame físico que busca ver e ouvir os movimentos da
mandíbula com um estetoscópio. “Apalpamos as estruturas e já na hora
conseguimos identificar se o indivíduo tem problemas de DTM”, esclarece
Simone.
Segundo a especialista,
é consenso entre os dentistas que nenhum procedimento para tratar DTM pode ser
invasivo nos dias de hoje. “Como ela pode ser confundida com outras doenças,
como enxaqueca e nevralgia do trigêmeo, pacientes podem acabar indo a
profissionais errados, ficando sem o tratamento adequado”, comenta
Simone.
Algumas pessoas apertam
os dentes com muita força e esse excesso de atividade muscular gera ácido
láctico. “A intensa contração dos músculos causa uma dor de origem
musculoesquelética por causa do ácido láctico acumulado. Como a região é cheia
de nervos, o paciente vai ter uma resposta mais intensa.” Indiretamente, esse
problema pode levar à enxaqueca, causada pela contratura muscular.
A DTM pode ser controlada
e ter seus sintomas reduzidos com dispositivos e placas interoclusais, que
diminuem a pressão intra-articular entre a mandíbula e os ossos temporais do
crânio. A fisioterapia, conforme Simone, é importante para restaurar os
movimentos e as funções comprometidas que o paciente estava impossibilitado de
fazer com a disfunção. “Os métodos mais utilizados são: eletroterapia, laser,
ultrassom, manipulações, exercícios, compressas etc”, completa. Além disso, a
conscientização do indivíduo é uma parte fundamental do tratamento. “Não
adianta a pessoa ir ao dentista para resolver o problema, mas ficar mascando
chiclete, roendo unha, apertando e tocando os dentes o dia inteiro.”
Para evitar o
apertamento dos dentes, a especialista recomenda ficar com as arcadas
desencostadas. “Mesmo que no início seja difícil, tem que tornar essa posição
de esforço um hábito”, enfatiza Simone. Uma outra alternativa para tratar a dor
na DTM é o manejo farmacológico. “Trabalha-se com medicamentos análogos da
morfina para retirar essa dor. Mas ressalto que a doença não é resolvida com a
medicação, só a crise da dor.” Nas palavras da dentista, a medicação deve vir
acompanhada de outras terapias.
Uma das famosas
consequências da DTM é o travamento da mandíbula. A causa pode ser de origem
muscular ou articular. Se a contração dos músculos for muito forte, isso impede
o movimento. “Essa contração tem origem no bruxismo, que é quando o paciente
aperta tanto os dentes que a musculatura fica enrijecida, como se estivesse em
um estado constante de tensão”, informa Simone. Traumas como socos, boladas e,
novamente, o bruxismo podem fazer com que o disco presente na articulação
temporomandibular fique deslocado, impedindo o movimento da mandíbula e
deixando-a travada.
O tratamento
desse travamento da mandíbula é similar ao da própria DTM. Além da
fisioterapia, usam-se as placas interoclusais. Caso o disco esteja deslocado,
os profissionais manipulam os movimentos para tentar colocá-lo na posição
original. “Se isso der certo pode ser que ele nem precise fazer outras
terapias, mas se ele continuar com alguma disfunção seguimos com outros
procedimentos”, conta Simone.
O estresse é um fator
que, por meio de condições neuroquímicas, favorece o travamento da mandíbula.
De acordo com a especialista, isso acontece porque o apertamento dos dentes
aumenta em situações estressantes, tensionando a musculatura e impedindo o
movimento. “As substâncias liberadas nesses momentos abaixam o limiar da dor e
deixam o paciente mais vulnerável, então, qualquer pressão das arcadas é
sentida de forma mais intensa”, declara Simone. Apesar de haver estudos que
investigam essa relação, falta ainda um resultado comprobatório.
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